Família estável, harmoniosa e com limites favorece uma adolescência menos conflitiva

Especialistas comentam o que deve ser observado pelos pais e pela escola no período da adolescência

 23/02/2024 - Publicado há 2 meses
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“É muito importante que os pais possam respeitar as características, deem uma certa instabilidade nessa busca da identidade do seu filho que se afasta, não afetivamente, mas se afasta muitas vezes na busca dos seus ideais, da sua religião e da sua moral.”, afirma Leila Tardivo – Foto: Freepik
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A criação de adolescentes pelos pais sempre foi difícil? E a educação? Para a psicóloga Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP, nunca foi fácil em função das mudanças físicas, psíquicas e sociais, obrigando os pais a se adaptarem a essa nova realidade. “A adolescência como um processo bio, que sempre teve a parte da puberdade, o desenvolvimento dos caracteres e do sistema genital, biopsico social. Então existe aí uma tentativa de independência, de autonomia, busca de uma identidade. Uma boa base, uma família estável, harmoniosa, com limites, naturalmente, favorece uma adolescência menos conflitiva e uma proximidade maior entre pais e filhos, respeitando no entanto uma geração aí. Enquanto o  adolescente está em casa, depende dos pais, também há regras a serem cumpridas. Escola, por exemplo, hora de chegar, dirigir só com 18 anos, todos esses cuidados.”

Importância do diálogo

Leila Tardivo – Foto: Lattes

A psicóloga destaca que sempre é fundamental um diálogo. Ela avalia que a adolescência não é só uma grande complicação, mas também é um momento muito rico na vida. “Esses jovens têm um desejo de crescimento, de mudar a realidade. O problema é que muitas vezes, inclusive neste século, todas as dificuldades que a gente vai tendo tornam o período mais complexo. Mas, de uma maneira geral, adolescentes são muito sadios, muito interessados no futuro, na busca da sua profissão. Agora, é muito importante que os pais possam respeitar as características, deem uma certa instabilidade nessa busca da identidade do seu filho que se afasta, não afetivamente, mas se afasta muitas vezes na busca dos seus ideais, da sua religião e da sua moral.”

A professora Leila destaca que o importante é o diálogo e o respeito. Os pais  não devem carregar toda a culpa e o peso dessa maturidade e precisam estar atentos às amizades. A influência do grupo de iguais é imensa. É preciso estar de olho, principalmente na primeira fase da adolescência. Estar atento às companhias, com quem o filho está andando, o que ele está fazendo, se as mudanças que os pais observam no comportamento estão dentro dessa instabilidade, mas se é possível o diálogo e a compreensão, ou se as coisas começam a se perder. 

Redes sociais

A psicóloga destaca que como as redes sociais vieram para ficar, assim como as futuras tecnologias que estão por vir, é preciso cautela. “As redes sociais tornaram a comunicação, o contato, a informação e as influências aumentaram de forma exponenciais. As coisas entram na vida da gente, no celular da gente, então é preciso tomar muito cuidado. Mas não adianta também tirar um adolescente da tela e não dar nada. Então: atividade física, cultural, artística e usar as redes sociais em prol da educação e do desenvolvimento.”

Os pais também passam muito tempo nas redes sociais, um exemplo negativo para os jovens, destaca a psicóloga. “A gente tem observado o aumento de depressão e de ansiedade em toda a população e em especial em adolescentes, e depois da pandemia pior ainda. Se sentem sós, acabam perdendo a esperança. As redes sociais são um grande risco pelo conteúdo.”.

Papel da escola

Marlene Isepi – Foto: FAPESP

A psicoterapia tem sido uma grande aliada no auxílio aos adolescentes, nos momentos de dificuldade e insegurança. Marlene Isepi, pedagoga e mestre pela Faculdade de Educação da USP e orientadora pedagógica da Escola de Aplicação da USP,  destaca que três pilares regem o trabalho educativo com os jovens: o diálogo, o respeito e a solidariedade.

“Eu acho que muito além de ensinar português, matemática, história e geografia, a escola assume como seu principal papel regrar essa convivência entre adolescentes e crianças da mesma idade com os seus pares e também com os adultos. Seja uma convivência livre que eles tenham, seja uma convivência também regrada nos trabalhos escolares, nos momentos em que são feitas as atividades escolares. Então, acho que isso é um papel muito importante da escola, porque a criança ou jovem aprende a conviver na escola, aprende a perceber diferentes opiniões, interesses diversos dos seus, superar frustrações, vivenciar conflitos, respeitar opiniões diferentes. Enfim, constituir-se como ser humano”, avalia Marlene. 

Relações e conflitos

Esses três pilares – diálogo, respeito e solidariedade – são utilizados na Escola de Aplicação da USP e regem toda a ambiência escolar pela via das interações cotidianas. “Isso leva para a escola e para a família uma relação que nem sempre é marcada pela confiança e pela parceria, mas também pode ser marcada por conflitos. Estamos falando de seres humanos, principalmente na adolescência essa relação pode ser ainda mais conflituosa. Podemos ter valores praticados pela família diferente dos valores praticados pela escola e na adolescência isso fica mais forte.”

A orientadora destaca que há uma diferença no comportamento entre as crianças e os adolescentes. “As crianças falam mais, os amiguinhos comentam mais com os adultos, já os adolescentes tendem a se fechar mais, a conversar somente com os amigos mais próximos ou com os adultos mais próximos.”

As preocupações da família sofrem variações em função de diferentes fatores, incluindo a posição social e econômica de cada família, porque as expectativas em relação ao trabalho da escola também são muito diversas”. Adolescentes com problemas costumam dar sinais. Isso pode  ser observado, normalmente, na queda de rendimento escolar. O isolamento, situações de ansiedade, muitas vezes automutilação também são características depressivas. “Quando isso acontece, é preciso orientar as famílias e procurar ajuda de especialistas”, avalia a coordenadora.


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