Depois de sobreviverem à recessão que fez a economia encolher 8% em 2015 e 2016, as empresas brasileiras chegaram ao fim de 2018 menos endividadas, resultado de reestruturações, venda de ativos e renegociação de débitos. De 2015 para cá, as dívidas das empresas listadas na Bolsa paulista caíram 17,7%, para R$ 885 bilhões, até setembro passado, segundo dados da consultoria Economática. Os dados de 267 empresas listadas na Bolsa somaram faturamento líquido de R$ 1,4 trilhão nos nove primeiros meses de 2018. Com a recuperação esperada para 2019, a expectativa de analistas é de que outras empresas consigam reduzir o endividamento e retomar investimentos.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Paulo Feldmann, professor do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, analisa que as empresas souberam analisar e formar estratégias que justificam a queda. “Eles sabem calcular e ver que empréstimos causam muitos problemas, porque as taxas são muito altas. Não vale a pena. Eles acabam contraindo um determinado valor com o empréstimo e depois de dois anos, com as taxas de juros que existem, pagam muito mais do que tomaram.” Com o passar do tempo, explica o professor, as empresas tomaram mais cuidado antes de fazer os empréstimos. “Na verdade, as empresas estão fugindo dos bancos. As taxas são altas. A Selic caiu para algo em torno de 7% a 8% ao ano, mas ela é — simplesmente — uma referência para as aplicações e não para os empréstimos. E as de empréstimos são muito altas. Muitas vezes, para as pequenas empresas, ela chega a 200% ao ano ”, diz Feldmann.
Segundo o especialista, tomando como parâmetro outros países, o governo deveria estimular os bancos a oferecerem empréstimos para as empresas investirem em maquinário, tecnologia e contratação de trabalhadores, levando ao aquecimento da economia. “O crédito para as empresas é fundamental para que se consiga a retomada da economia.” Ele ainda aponta que uma das soluções seria “obrigar os bancos a praticar taxas mais baixas ao ano, principalmente para as pequenas e médias empresas”.
Feldmann alerta para o problema da geração de empregos e da falta de políticas claras para solucioná-lo por parte da nova gestão federal. “Alguns economistas acham que é possível um crescimento de 2%. Talvez haja um crescimento dessa ordem, mas será muito pequeno para o que o Brasil precisa. Se você pegar a taxa de desempregados do Brasil no momento, que é de 11,5 %, você vai ver que tem pouquíssimos países no mundo que têm a taxa maior. Ou seja, estamos com um problema muito sério. Mas eu pergunto: houve alguma medida para reduzir o desemprego? Não houve absolutamente nada. O governo tem falado muito de reforma da Previdência e outras coisas, mas como vai reduzir o desemprego? Se não tiver uma política clara de formação de novos empregos, o próprio não vai cair.”