Cientistas lançam manifesto contra tecnologia que prevê bloquear parte da luz solar do planeta

Tércio Ambrizzi explica que tecnologia, conhecida como geoengenharia solar, é pouco estudada, exigiria acordos e legislações globais e que pode desestimular compromissos ambientais de governos e empresas

 14/02/2022 - Publicado há 2 anos
Existe todo um trabalho científico que vem sendo feito no sentido de mitigar a emissão dos gases de efeito estufa – Foto: Pixabay-CC
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Mais de 60 cientistas climáticos e acadêmicos de todo o mundo lançaram recentemente uma iniciativa global pedindo um acordo internacional de não uso de geoengenharia solar. Segundo a iniciativa, a implantação dessa tecnologia não pode ser governada de forma justa globalmente e representa um risco se implementada como uma futura opção de política climática.

Tércio Ambrizzi, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) de Mudanças Climáticas, explicou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre a tecnologia da geoengenharia solar, que seria a pulverização massiva de aerossóis na estratosfera para bloquear uma parte da luz solar.

Para ele, isso representa um perigo muito grande. “Quando você injeta um monte de partículas na estratosfera, é como se você criasse um pequeno cobertor em cima de nossa cabeça, e aí os raios solares, quando tentam passar pela atmosfera para aquecer o nosso planeta, parte deles pode ser refletida para o espaço e, portanto, você estaria diminuindo energia solar que aquece o nosso planeta”, diz ele, antes de prosseguir: “Primeiramente pode se pensar: ‘então, calma aí, a gente tá falando do aquecimento do nosso planeta, do aquecimento global, se a gente diminuir a entrada dos raios solares então a gente pode diminuir esse aquecimento'”. Parece simples, mas não é.

 

Tércio Ambrizzi, do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

 

Isso porque na atmosfera há a circulação de ventos, que não podemos controlar e que impediriam que esse “cobertor” de partículas se mantivesse homogêneo. “Se você injetar esses aerossóis lá em cima, você não vai mantê-los parados lá, vão ficar circulando. E aí é que mora o perigo, porque numa região pode entrar até menos energia solar e deixar de aquecer, mas em outra pode aquecer muito mais até […] o Brasil, por exemplo, pode esfriar muito mais que outros países, e esse esfriamento não dá para controlar  também”, o que pode causar prejuízos para a agricultura.

Diante disso, diz Ambrizzi, a discussão não é simples e exige muita pesquisa e, principalmente, o esforço de evitar experimentos que possam afetar vários países.

 

Tecnologia já existe

 

Ambrizzi diz que todo o trabalho científico vem sendo feito no sentido de mitigar a emissão dos gases de efeito estufa e daí a importância de se adotar uma atitude muito mais sustentável para com o meio ambiente. “Portanto, nós já temos ações e tecnologia para diminuir a emissão desses gases, que são os verdadeiros culpados pelo aumento de temperatura do nosso planeta.” Isso vai fazer com que haja a diminuição de gases sem necessitar da adoção de uma tecnologia de alto risco. “Nós não precisamos ter algo artificial  (geoengenharia solar), sobre o qual não se tem um completo controle e conhecimento”, diz ele.


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