A exposição À Nordeste convida o público a repensar o Brasil e evidencia a riqueza cultural dos mestres artesãos, da música, literatura, cinema e da criatividade nordestina. Na coluna Ouvir Imagens (clique no player acima), a professora e artista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP comenta a mostra com a curadoria de Bitu Cassindé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos. “Uma das motivações do projeto foi a eleição de 2018, que acirrou um debate sobre a região, pela contraposição política que expressou, configurando-se nitidamente como um foco de resistência às plataformas do então candidato Bolsonaro!”, explica. “Não foram poucos os preconceitos e clichês que tomaram as redes nessa época, associando o Nordeste e os nordestinos com atraso cultural atávico e terra amaldiçoada pela seca por ser território do pecado e da insurreição.”
A professora acentua que a exposição é política, mas não partidária. “Política no sentido de nos fazer pensar o Brasil, outras matrizes culturais e a violência da produção social de nossa história. Para além do estopim das últimas eleições, a mostra evidencia a riqueza do Nordeste como centro irradiador de linguagens e espaço de produção simbólica e crítica.”
Grafado com crase, À Nordeste, segundo analisa a professora, pode ser lido como “à moda do Nordeste”. E ressalta: “Mas no falar, pode ser entendido como Nordeste no feminino, indicando questões sobre diversidade e, mais obviamente, aquilo que fica na direção nordeste. Essa ambiguidade não é casual, não”.
Giselle Beiguelman cita os destaques da mostra. “São pontos altos, na minha avaliação, os cruzamentos feitos entre obras dos mais variados repertórios, como as incríveis carrancas de madeira e sua releitura em fibra de vidro por Tadeu dos Bonecos, como capacete e adereço de motocicleta. Isso lado a lado com obras como as de Ayrson Heráclito, Tiago Sant’ana e Caetano Dias, e ao som do Mangue Beat, de Recife, nos faz pensar que é mais que urgente pensar em uma outra história da arte”, observa. “Uma história capaz de dar conta dessa diversidade cultural, superando as oposições tradicionais entre artesanato/artefato e arte, cultura popular e cultura erudita, alta e baixa cultura e reelaborando as constelações estéticas que constituem a arte brasileira nas suas intersecções, particularidades em relação ao mundo.”
A exposição fica em cartaz até 25 de agosto, no Sesc 24 de Maio, de terça-feira a domingo. Para mais informações sobre a mostra acesse: www.desvirtual.com
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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