As universidades, os responsáveis, veículos/produtos e regiões presentes na pesquisa foram, respectivamente:
• Universidade Federal do Pará, Rosyane Rodrigues, Jornal Beira do Rio (Norte);
• Universidade Federal de Sergipe, Josafá Bonifácio Neto, UFS Ciência (Nordeste);
• Universidade de Brasília, Serena Veloso e Vanessa Vieira, UnB Ciência e Revista Darcy (Centro-Oeste);
• Universidade do Estado de Mato Grosso, Danielle Tavares Teixeira, home principal, aba notícias (Centro-Oeste);
• Universidade Federal de Uberlândia, Diélen Borges, Comunica Ciência e podcast Ciência ao Pé do Ouvido (Sudeste);
• Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Ana Cláudia Theme, home principal/notícias, home CTE/destaques e alguns programas em áudio e vídeo (Sudeste);
• Universidade de São Paulo, Luiza Caires, Fabiana Mariz e Pedro Neto, Jornal da USP, Ciência USP, Rádio USP, Canal USP (Sudeste);
• Universidade Federal de São Paulo, Walter Teixeira Lima Júnior, home principal/aba notícias, podcast PodSer Ciência e Revista Tá Na Mão (Sudeste);
• Universidade Estadual Paulista, Pablo Nogueira, Jornal da Unesp (Sudeste);
• Universidade Estadual de Campinas, Álvaro Kassab, Jornal da Unicamp (Sudeste);
• Universidade Estadual de Londrina, William Casagrande Fusaro, O Perobal (Sul);
• Universidade Federal de Santa Catarina, Luís Carlos Ferrari, home principal/aba notícias, home de jornalismo científico, UFSC Ciência, UFSC Explica, Traduzindo Ciência (Sul).
De modo algum a ideia é comparar as produções das diferentes universidades, mas sim de possibilitar uma compreensão dessa prática na contemporaneidade, até porque cada instituição está inserida em uma realidade geográfica, social, cultural, política e econômica própria.
No momento das entrevistas (novembro e dezembro de 2022 e janeiro e março de 2023), enquanto a USP contava com equipe setorizada para essa produção, por exemplo, a Uerj passava por uma reconstrução da Diretoria de Comunicação.
Para os jornalistas, os pontos positivos de produzir seu próprio jornalismo científico são: aproximar a universidade da população; ampliar a visibilidade da universidade e suas pesquisas; ajudar a mostrar o impacto da ciência na vida das pessoas; ter uma equipe dedicada a essa produção; ter liberdade editorial; oferecer profundidade na cobertura em comparação à grande mídia que amplia a qualidade do material publicado; ter facilidade de acesso às fontes e ampliar o caminho ao conhecimento científico, além de combater a desinformação.
Na opinião de Rosyane Rodrigues, da UFPA, a importância está em ser “o principal instrumento para fazer a divulgação da pesquisa, de tudo que a universidade faz e mostrar qual o impacto disso na vida das pessoas. Além disso, é o espaço para discutir questões da sociedade sob os olhos da instituição. Acho que só um veículo produzido aqui dentro é que vai ter esse olhar, que vai ter esse interesse já que tem uma equipe voltada só para isso”.
Para Álvaro Kassab, da Unicamp, “os produtos de jornalismo científico são espaços para uma reportagem de profundidade em que há uma apuração criteriosa e uma produção mais demorada, que resulta em um material de confiança. A universidade tem um papel fundamental na difusão de ideias a partir da divulgação do que produz”.
Há, é claro, pontos a serem melhorados, como superar a falta de recursos financeiros e materiais, como ter uma equipe pequena para a alta demanda de trabalho; enfrentar a incompreensão por parte de alguns pesquisadores e gestores sobre o trabalho do jornalista; acabar com a dependência das pautas que sejam viciadas em um olhar mais institucional ainda existentes e aprimorar as formas de comunicação para conversar melhor e mais diretamente com o público.
Independente das limitações existentes, todos os profissionais reconheceram a importância da universidade, que cada vez mais precisa “falar para fora”, ou seja, comunicar-se com a sociedade, sobretudo quando o assunto é sobre ciências.
Algumas, aliás, já fazem essa produção especializada desde os anos 1980, como a USP, UFPA, Unesp e Unicamp, mesmo que no passado alguns desses produtos tivessem uma linha editorial diferente da atual. Outras, como a UFS, UFU, UFSC, UnB e Uel têm uma produção mais recente, porém consistente. Já a Uerj, Unemat e Unifesp, apesar do reconhecimento por parte dos jornalistas da importância desse tipo de pauta, têm sofrido para manter uma produção constante, seja devido ao corte de verbas ou ao não reconhecimento da gestão sobre o papel da comunicação no organograma da universidade.
Na visão de quem produz esse jornalismo científico, mesmo com algumas limitações do serviço público, produzir jornalismo científico dentro de uma universidade amplia a democratização do acesso ao conhecimento auxilia na qualificação do olhar da sociedade e ajuda as pessoas a se tornarem mais protagonistas dos seus direitos, sem contar na contribuição para que as pessoas possam exercer melhor sua cidadania.
É importante ressaltar que esse jornalismo prioriza a qualidade da informação e da apuração, ou seja, é inadmissível nesses espaços a prática de um jornalismo sensacionalista ou superficial.
Ao falar sobre ciência e mostrar que ela também está inserida no dia a dia do cidadão comum, há mais chances de o público perceber sua importância e compreendê-la melhor, afastando a ideia de que se trata de um bicho de sete cabeças. Esse compromisso também busca aproximar a sociedade da universidade, desmistificar o seu papel, ainda mais em tempos de desinformação e ataques a essas instituições. Como bem reforça Diélen Borges, da UFU: “Ao fazer esse trabalho, estamos também defendendo o jornalismo, a universidade, a ciência e garantindo a produção de conteúdo de qualidade”.
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