Investimento em prevenção é solução para enfrentar catástrofes naturais

Centro de Sismologia da USP contribui para o monitoramento de tremores de terra no Brasil

 11/11/2022 - Publicado há 1 ano
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Alagamentos são um dos desastres naturais que mais atingem a população – Foto: Fernando Stankuns/Flickr
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Metade do mundo não está protegida por sistemas de alerta de segurança contra os perigos provocados por catástrofes naturais, como terremotos, deslizamentos de terras, alagamentos, tsunamis. Os países em desenvolvimento ou os mais pobres na linha de frente das mudanças climáticas são os que mais sofrem, porque não têm um sistema preventivo de alerta de múltiplos riscos, segundo o Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres (UNDRR) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Ainda segundo a ONU, nesses países, a taxa de mortalidade em uma catástrofe natural é oito vezes maior do que nos países que possuem sistemas efetivos de alerta.

O sismólogo Bruno de Barros Collaço, do Centro de Sismologia da USP, diz que o investimento em políticas de investigação de danos relacionados às catástrofes naturais podem evitar ainda mais perdas. “Está mais do que comprovado que os Sistemas de Alerta Precoce, que é o termo em português para Early Warn Systems, são capazes, sim, de evitar mortes e danos materiais quando há ocorrência de inundações, tsunamis, tempestades etc.” 

Bruno de Barros Collaço, sismólogo do Centro de Sismologia da USP – Foto: Reprodução/IAG-USP

A situação no Brasil também é preocupante. Segundo o especialista, a Defesa Civil de algumas poucas cidades têm sistemas que avisam quanto ao risco de enchentes e deslizamentos através de mensagem de celular com base nas previsões meteorológicas. “Mas casos como esses são exceção à regra, pois o País, em geral, não tem sistema de alerta capaz de avisar todos os moradores nem sistemas de evacuação em massa de áreas de risco.” A falta de investimento afeta diretamente as vítimas das catástrofes. “A gente vê se repetir o número de casos de deslizamentos de casas, nas encostas, ano após ano, assim que o período das chuvas começa.”

Apesar das dificuldades, a USP contribui com monitoramentos da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) através do Centro de Sismologia. “A Universidade mantém uma série de sismógrafos espalhados pelo Brasil, que registram tremores todas as semanas. Apesar de não ser possível prever quando um tremor vai acontecer, o conhecimento sobre as zonas mais suscetíveis a esses eventos aumentou muito nos últimos anos. Isso permite uma aproximação maior da Universidade com a população, através de ações de conscientização e comportamento no caso da ocorrência desses eventos.”

Nos últimos dez anos, a USP aumentou consideravelmente a capacidade de detecção e o conhecimento das áreas mais sísmicas do País, graças à ajuda de relatos da população através da plataforma do Centro de Sismologia (https://moho.iag.usp.br/eq/dyfi), criada por grupos de estudos do Laboratório de Sismologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e de parte do grupo de Tecnologia de Petróleo, Gás Natural e Bioenergia do Instituto de Energia e Ambiente, ambos da USP. “Uma pessoa que eventualmente tenha sentido um tremor de terra, pode deixar um relato na plataforma e contribuir, dessa forma, para estudos que são feitos aqui na universidade.”

Sistemas de alerta custam caro

Collaço explica que sistemas de alerta, como o de um tsunami, por exemplo, geralmente são os mais caros. “A implantação do sistema de alerta de terremotos e tsunamis no Japão, que é o mais avançado do mundo, custou cerca de US$ 1 bilhão.” Na região da Califórnia, nos Estados Unidos, por onde passa a Falha de San Andreas, uma falha geológica de 1,3 mil km de extensão formada pelo encontro das placas tectônicas do Pacífico e norte-americanas e, por isso, mais vulnerável a terremotos e tsunamis, sistema semelhante implantado custou cerca de US$ 100 milhões e tem um custo de manutenção anual de US$ 6 milhões. 

“Praia fechada, aviso de tsunami” – Foto: Reprodução/Pixnio

 

Para Collaço, a questão é que o alerta, por si só, não necessariamente salva vidas, porque as pessoas precisam saber como proceder nesses momentos. “O sucesso desses sistemas envolve várias etapas, inclusive treinamentos e simulações com a população e, mesmo assim, esses custos são pequenos em comparação com o custo multibilionário que mesmo o terremoto moderado pode vir a causar.”

O especialista diz que a ONU tem liderado uma iniciativa mundial para abranger com cobertura de alertas e socorro um número maior de tipos de catástrofes e atingir mais países também nos próximos cinco anos. “O primeiro passo, no entanto, para aumentar a segurança contra as catástrofes, deve ser o mapeamento das áreas de risco, com investimento em conhecimento dos tipos de risco e planejando melhor a capacitação das comunidades vulneráveis. Isso contribui bastante nas ações de prevenção.” 

Outra medida importante, citada pelo pesquisador, é o compartilhamento de dados entre os países. “Os sismólogos da RSBR, por exemplo, possuem acesso livre para qualquer instituição no mundo obter dados em tempo real. Isso faz com que sistemas nacionais automaticamente possam monitorar áreas cada vez maiores”, explica Collaço. 

Tsunamis e grandes terremotos, diz o pesquisador, são os eventos que mais carecem de investimentos em infraestrutura, como sensores sismológicos. “São particularmente caros e demandam uma certa quantidade para gerar dados com precisão que seriam capazes de alimentar o sistema de alerta precoce. Além disso, há também a necessidade de se investir em sistemas de transmissão, por exemplo, via satélite, para que esses dados possam ser analisados em tempo real.”


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