Todos esses fatos estão ligados ao recente período histórico e social pelo qual nós passamos. De um lado, havia um movimento de desmonte e descredibilização da universidade, da ciência, ou do jornalismo. De outro, agentes com diversas ações de enfrentamento a essas situações, principalmente as que se referem à comunicação.
Cientistas, pesquisadores, institutos de pesquisas e universidades enxergaram a necessidade do contato maior com um público diverso. Assim, quem não possuía essa ferramenta (ou canal) passou a ter e, para quem já tinha, o investimento em tempo e publicações tornou-se maior.
Entre esses exemplos, interessa olhar com mais atenção para o papel das universidades públicas nesse processo. Por quê? Porque o relatório Clarivate Analytics (2019) intitulado A Pesquisa no Brasil: Promovendo a excelência, realizado a pedido da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por exemplo, divulgou que dez universidades – todas elas públicas – são responsáveis por mais da metade da produção científica brasileira.
Além disso, a pesquisa Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia, realizada em 2022, pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT), identificou que os cientistas, especialmente aqueles que trabalham em universidades e instituições públicas, têm imagem positiva, sendo percebidos como honestos e que realizam um trabalho que beneficia a população. Em uma lista de profissionais previamente fornecida, em que os entrevistados podiam marcar duas opções, foram indicados como fontes confiáveis de informação médicos (60,1%), cientistas (47,3%, dos quais 30,6% cientistas de universidades ou institutos públicos de pesquisa e 16,7%, cientistas que trabalham em empresas) e jornalistas (36,4%).
Uma outra questão da pesquisa buscava identificar se os entrevistados tinham conhecimento sobre instituições científicas e pesquisadores. Dentre as instituições mais citadas, estão o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade de São Paulo.
Reconhecemos, portanto, que a comunicação com a sociedade é fundamental para dar visibilidade às universidades e aos projetos e, consequentemente, ampliar o acesso à informação científica de qualidade. Mas de que tipo de comunicação estamos falando? Institucional? Geral?
Ambas, apesar de focarem públicos diferentes, são importantes no organograma de uma universidade. Tornar a ciência pública é fundamental, principalmente no contexto das democracias, da cidadania e do desenvolvimento da própria ciência. Para isso a divulgação científica, em seus diversos formatos, é de suma importância. Wilson Bueno compreende a divulgação científica como: “A utilização de recursos, técnicas, processos e produtos como programas de rádio e televisão, jornais, revistas e sites para a veiculação de informações científicas para o público leigo”.
Mesmo sabendo que não é tão fácil introduzir um setor especializado de comunicação na estrutura organizacional da universidade, seria importante para as instituições separarem o que é comunicação institucional (assessoria de imprensa ou assessoria de comunicação) e o que é divulgação científica, via práticas jornalísticas, especialmente a nomeada de jornalismo científico.
Na busca por identificar e compreender como se configura o jornalismo científico em universidades públicas observando suas características, rotina produtiva, conteúdo e público, nasce a pesquisa de doutorado A práxis do jornalismo científico: a experiência do Jornal da USP e de universidades públicas brasileiras no período pandêmico, desenvolvida entre os anos de 2020-2023, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Ao acessar todos os sites (109 no total) das universidades públicas (federais e estaduais) brasileiras em busca de dados sobre a comunicação e o jornalismo científico produzidos por elas, a investigação constatou que 36 universidades federais e 10 estaduais produzem esse tipo de conteúdo (com as nomenclaturas jornalismo científico ou divulgação científica) e 33 (federais) e 30 (estaduais) não produzem jornalismo científico e, sim, jornalismo de caráter mais institucional ou, eventualmente, uma ou outra nota/notícia de divulgação de resultados de pesquisa desenvolvidos pela instituição na home.
Para tentar entender como esse jornalismo científico é feito, pela perspectiva de quem o produz, 15 profissionais de 12 instituições das cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul foram ouvidos.
E como esse conteúdo aparece? Na home com um espaço dedicado ao tema, ou, ainda, em uma página e/ou canais específicos como sites, podcasts, jornais impressos e/ou digitais, vídeos, revistas, boletins, sem contar as mídias sociais.
Nas falas dos jornalistas que atuam nessas universidades é possível identificar que os profissionais procuram atuar em duas frentes: (1) como uma ponte, sendo mediadores entre os veículos de comunicação e as fontes internas de informação, e (2) como produtores de conteúdo informativo que é publicado nos canais oficiais da instituição.
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