Geociências USP: contribuindo para o desenvolvimento da sociedade brasileira

Por Caetano Juliani, ex-diretor do Instituto de Geociências (IGc) da USP, Marly Babinski e Renato Paes de Almeida, atuais diretora e vice-diretor do IGc

 19/02/2024 - Publicado há 2 meses

Caetano Juliani – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Marly Babinski – Foto: Arquivo Pessoal
Renato Paes de Almeida – Foto: Reprodução/IGc-USP

 

 

Desde sua criação em 1970, o Instituto de Geociências (IGc) da USP tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento socioeconômico do Brasil, com base em estudos que possibilitam uma melhor compreensão da sua estrutura geológica. Isso contribui significativamente para a descoberta e gestão de recursos naturais (hídricos, energéticos e minerais) e para a preservação do meio ambiente. Além disso, destaca-se a formação de profissionais altamente qualificados nos cursos de Bacharelado em Geologia e Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental.

Esses profissionais ocupam atualmente posições de destaque em universidades no Brasil e no exterior, em instituições de pesquisa, na indústria e em órgãos governamentais, atuando em diversas áreas relacionadas às geociências. O Instituto de Geociências também se destaca no cenário nacional e internacional devido ao seu excepcional parque de equipamentos de pesquisa, que inclui equipamentos únicos na América Latina.

No IGc, são desenvolvidas pesquisas sobre a evolução do planeta Terra em todos os seus aspectos, incluindo a formação de rochas, minerais e seu conteúdo fossilífero. O impacto das pesquisas em geociências na sociedade pode ser exemplificado pelos estudos sobre as mudanças ambientais e climáticas no passado e suas implicações para o entendimento das alterações naturais e antrópicas atuais e futuras.

Alguns dos estudos em desenvolvimento buscam compreender as relações entre as atividades vulcânicas do passado, os ciclos de extinção da vida e as alterações climáticas. Além disso, o estudo dos processos sedimentares e da dinâmica externa da Terra inclui a compreensão dos aspectos que possibilitaram o desenvolvimento e evolução da vida na Terra, os processos que resultaram em concentrações atípicas de hidrocarbonetos no pré-sal nas bacias de Santos e Campos, e a avaliação do uso de rochas como possíveis reservatórios geológicos para o armazenamento de gás carbônico (CO2), devido à importância do enfrentamento das mudanças climáticas.

Por sua vez, os projetos de pesquisa sobre controle da poluição e o aproveitamento das águas superficiais e subterrâneas contribuem para reduzir os impactos das crises hídricas nas grandes cidades e auxiliam na solução de problemas ambientais e na formulação de políticas públicas. Também são avaliadas as consequências das ações antrópicas no meio físico, incluindo aquelas decorrentes da construção de barragens e mudanças no padrão de inundação das várzeas, e suas consequências para o bioma e as comunidades locais na Amazônia.

O mapeamento geológico e os estudos sobre os recursos minerais críticos e estratégicos, necessários para a indústria, agricultura e para a transição energética rumo a uma economia de baixo carbono, possibilitam novas descobertas de depósitos minerais que podem atender às crescentes demandas da sociedade. No Instituto de Geociências, são propostos modelos geológicos inovadores para apoiar a indústria na busca de recursos minerais essenciais para a economia, sem os quais o desenvolvimento socioeconômico sustentável do País dependeria totalmente de importações. Por sua vez, estudos de geologia forense, que incluem a geoquímica isotópica, visam rastrear a origem do ouro apreendido e explotado em garimpos ilegais.

Os estudos geotécnicos são igualmente importantes para as obras de engenharia, tais como as do Metrô e do Rodoanel, em São Paulo, e contribuem para o desenvolvimento urbano. Riscos geotécnicos relacionados a escorregamentos, taludes de mineração e estabilidade de barragens de rejeitos na indústria de mineração são avaliados por diferentes métodos, incluindo o uso de técnicas de machine learning.

Projetos relacionados ao patrimônio geológico, geoturismo, geodivulgação e educação ambiental também integram o mosaico de temas das geociências, refletindo preocupações ambientais crescentes e a necessidade de uma compreensão aprimorada dos processos geológicos que ocorreram e ocorrem em nosso planeta.

Embora todos esses aspectos sejam fundamentais para a sociedade, os impactos das pesquisas geológicas são pouco percebidos pela população em geral. No entanto, eles permeiam e se conectam com vários aspectos da vida diária e orientam a busca por sustentabilidade em nosso planeta.

O Instituto de Geociências está planejando seu futuro no ensino, pesquisa e extensão com foco na inovação disruptiva e nas aplicações para a sociedade, por meio do uso intensivo de novas tecnologias, incluindo a inteligência artificial, e do desenvolvimento de áreas multidisciplinares inovadoras, buscando a sustentabilidade e preservação do meio ambiente.

Neste contexto, o IGc busca contribuir efetivamente para um caminho inovador, conciliando a utilização dos recursos naturais de forma sustentável, com o objetivo de promover a transição energética, a partir do conhecimento geológico e suas interfaces multidisciplinares e interdisciplinares, em conformidade com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

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