O conceito de cultura remete à diversidade de crenças e práticas que são construídos ou partilhados no interior de uma sociedade. Isso não é diferente para os sistemas alimentares: quando essas ideias e práticas tocam o universo da alimentação, chama-se cultura alimentar.
“Especificamente sobre sistemas alimentares tradicionais, que são aqueles em que as pessoas plantam e colhem o que comem, há cada vez mais evidências de seus inúmeros benefícios, o que inclui a diversidade de alimentos consumidos e a qualidade da dieta, com uma diversidade maior de nutrientes importantes para a nossa saúde”, diz Michelle Jacob, nutricionista e parceira do Núcleo de Extensão Sustentarea da Faculdade de Saúde Pública da USP.
A transmissão de conhecimentos sobre a biodiversidade e cultura constrói os sistemas alimentares dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, entre outros. Para isso, é importante registrar conhecimento deles sobre quais alimentos são comestíveis na natureza e como prepará-los. Para Michelle, um passo importante para resguardar essa cultura é cuidar dessas pessoas.
“Um exemplo do que pode ser feito é apoiar a luta de povos indígenas pela demarcação de suas terras. Esse é um caminho importante para resguardarmos essa cultura e, logo, o conhecimento, que tem potencial de beneficiar a toda a humanidade, incluindo as pessoas não indígenas”, diz a nutricionista.
Efeitos para toda a sociedade
A proteção e conservação desses conhecimentos tem potencial para quebrar barreiras culturais e beneficiar toda a sociedade. Pesquisas desenvolvidas sobre a diversidade de plantas, cogumelos, algas e animais silvestres beneficiam tanto os povos indígenas quanto a população em geral, que pode aprender sobre alimentos pouco conhecidos.
Os povos tradicionais detêm o conhecimento sobre o valor nutricional desses alimentos, como o que de vitaminas e minerais estão presentes neles. A implementação desse conhecimento na dieta do dia a dia da população enriqueceria a alimentação.
“Uma vez que a partir do conhecimento da biodiversidade desenvolvemos um novo medicamento ou descobrimos um novo alimento, esse conhecimento tem o potencial de beneficiar a todos”, diz Michelle.
A medicina indígena, por exemplo, não é descartada hoje por cientistas. Isso porque alguns medicamentos amplamente utilizados hoje e comercializados em farmácias surgiram com o conhecimento dos povos tradicionais, como os princípios ativos usados para tratamento da malária.
*Estagiária sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
Boletim Alimentação e Sustentabilidade
Parceria: Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, Rádio USP e Jornal da USP
Produção: Professor Ricardo Abramovay, Estela Sanseverino e Nadine Marques
Coprodução: Cinderela Caldeira, J. Perossi e Felipe Bueno
Edição: Rádio USP
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