A compreensão do mundo contemporâneo nas páginas de dois livros

Segundo Wisnik, livros como os de Jonathan Crary e Byung-Chul Han colaboram para a compreensão do mundo contemporâneo

 02/06/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 31/03/2017 as 19:41

cab_wisnik

Foto: Richard Scott/Visualhunt
Foto: Richard Scott/Visualhunt

O colunista Guilherme Wisnik, em sua colaboração semanal para a Rádio USP, recomenda a leitura de dois livros que considera fundamentais para a compreensão do mundo contemporâneo: “24/7″ – Capitalismo tardio e os fins do sono”, do ensaísta marxista norte-americano Jonathan Crary; e “A Sociedade do Cansaço”, do autor coreano Byung-Chul Hain.

Segundo Wisnik, as duas obras levantam questões agudas e convergentes sobre a época em que vivemos. Em seu livro, Crary parte de um estudo da ciência americana sobre o comportamento dos pássaros migratórios, capazes de voarem durante uma semana inteira sem dormir. O autor faz uma analogia com o sonho das sociedades capitalistas de conseguirem criar o consumidor sem sono, um consumidor apto a consumir desenfreadamente durante as 24 horas do dia, daí o título de seu livro.

Em “A Sociedade do Cansaço”, o autor aponta a mudança de paradigma ocorrida em nossos tempos. Na época da Guerra Fria, vivíamos a era bacteriológica, em que o inimigo era uma bactéria. O problema estava no outro, portanto nada se tinha a temer, desde que não se fosse contaminado. Hoje, a ameaça do outro desapareceu e já não existe o inimigo. As patologias já não são bacteriológicas, mas neuronais – na forma de depressão, déficit de atenção e outros distúrbios da mente -,  causadas pelo excesso do próprio eu contra si mesmo, imersos que estamos num ritmo contínuo de trabalho, o qual não permite pausas para o descanso e o lazer.

Para Wisnik, as obras em questão desvendam um sintoma típico da modernidade: a incapacidade das pessoas de pararem de trabalhar, porque o trabalho colonizou a própria atividade do ócio, como atestam o computador e a Internet, que estão aí para nos deixar o tempo todo conectados ao trabalho.

Logo da Rádio USP

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.