Pesquisa sobre radiofármacos do programa de pós-graduação Ipen/USP recebe prêmio internacional

Trabalho premiado aborda como otimizar a produção de radiofármacos, utilizados para diagnósticos, tratamentos e terapias de várias doenças que são objeto da medicina nuclear

 23/01/2024 - Publicado há 3 meses
Antonio Arleques Gomes, doutorando do Ipen/USP, durante a premiação no XII Congresso Latino-Americano de Órgãos Artificiais e Biomateriais – Foto: Divulgação/Ipen

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O trabalho Circuito microfluídico aplicado à concentração de
18F (Flúor-18) para produção de radiofármacos, realizado por Antonio Arleques Gomes pelo programa de pós-graduação Ipen/USP, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, conquistou o 1º lugar com a láurea Marcos Pinotti Barbosa, concedida à melhor pesquisa estudantil apresentada durante o XII Congresso Latino-Americano de Órgãos Artificiais e Biomateriais (Colaob/2023) realizado no período de 12 a 15 de dezembro de 2023 em Mar del Plata, Argentina.

O prêmio, inédito para o programa de pós-graduação do Ipen/USP, é considerado um dos mais importantes para a comunidade científica da Sociedade Latino-Americana de Biomateriais e Órgãos Artificiais (SLABO), organizadora do evento, e presta homenagem ao professor Marcos Pinotti (1965-2016), reconhecido como um dos principais cientistas brasileiros nas áreas de Biomimética e Bioengenharia e cofundador da SLABO.

A pesquisa, escolhida entre 69 trabalhos apresentados durante o congresso, está sob a orientação do professor dr. Wagner de Rossi, gerente do Centro de Lasers e Aplicações (Celap) e co-orientada pelo farmacêutico dr. Emerson S. Bernardes, gerente do Centro de Radiofarmácia (CECRF) do Ipen. Também contou com a importante participação do radioquímico dr. Arian Pérez Nario, bolsista de pós-doutorado do Ipen, e do físico dr. André Luiz Lapolli, responsável pelo Serviço de Operação de Aceleradores Cíclotron do instituto.

Na prática, a pesquisa visa desenvolver um sistema microfluídico por meio de técnica de microusinagem com laser de pulsos ultracurtos para a produção de radiofármacos a partir de Flúor-18. No trabalho, foi produzido um circuito microfluídico dedicado chamado de “microcartucho de troca aniônica”, destinado ao primeiro estágio de obtenção de qualquer radiofármaco; um produto utilizado essencialmente para diagnósticos, tratamentos e terapias de várias doenças que são objeto da medicina nuclear.

O processo compreende duas fases distintas. Na primeira, o Flúor-18 obtido em cíclotron fica retido no microcartucho. Na segunda, de eluição, o Flúor-18 é extraído resultando em um eluente líquido com uma concentração significativamente elevada do radionuclídeo.

Uma das fases do desenvolvimento do sistema microfluídico por meio de técnica de microusinagem com laser de pulsos ultracurtos – Foto: E. R. Paiva/Ipen

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Inovação

Além de inédito no Brasil, o resultado da pesquisa desenvolvida no Ipen-Cnem pode ser considerado significativo uma vez que conseguiu uma concentração do eluente com Flúor-18 de seis a dez vezes maior que a obtida por meio de outros processos convencionais na primeira etapa de produção de radiofármaco, como, por exemplo, o Fluordexogliocose (FDG).

“Ter sido premiado com o trabalho de maior importância e relevância científica em um congresso desse nível é, sem dúvida, uma grande satisfação para mim e, acredito, de grande importância para o Ipen”, destacou o doutorando Antonio Gomes, o qual enfatiza a dedicação do prêmio ao seu grupo de pesquisa e, em especial, a seu orientador pelo apoio incondicional.

O doutorando explicou ainda que os resultados apresentados, bem como o desenvolvimento da técnica de microusinagem com laser de pulsos ultracurtos, posicionam o Ipen como uma instituição de destaque na inovação tecnológica e científica nesta área do conhecimento.

Uma das principais missões do Ipen é tornar a medicina nuclear cada vez mais acessível à sociedade brasileira e o Flúor-18 tem destaque em exames que se utilizam de equipamentos de tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT).

“O próximo passo após a conclusão da pesquisa é buscar parcerias no setor produtivo para disponibilizar para a sociedade radiofármacos mais eficazes para a medicina nuclear”, finaliza Gomes.

Para o físico Wagner de Rossi, este prêmio coroa um trabalho que se iniciou há alguns anos a partir de uma sugestão do dr. Jair Mengatti, gerente da Radiofarmácia na época.

“Nós encaramos a sugestão como um desafio para produzir radiofármacos com microfluídica. O trabalho ainda não está concluído, pois o prêmio se refere apenas a uma parte já desenvolvida, mas demonstra que estamos num bom caminho para conseguir produzir radiofármacos a partir de um sistema inovador que vai trazer inúmeras vantagens para o processo”, conclui Rossi.

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Texto: Ulysses Varela, bolsista BGE-DA/Ipen-Cenen


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