Faculdade de Medicina da USP lança vídeo da “Expedição Cirúrgica” realizada em Mato Grosso

Em sua décima edição, o projeto contabilizou mais de 500 atendimentos, 1000 exames de ultrassom e cerca de 100 cirurgias, entre outros serviços que podem ser vistos no Canal do YouTube

 20/12/2023 - Publicado há 5 meses
Equipe de voluntários da Expedição Cirúrgica que esteve em Barra do Garças, no Estado de Mato Grosso – Foto: Divulgação/FMUSP

.
Há dez anos a Faculdade de Medicina (FM) da USP promove anualmente as Expedições Cirúrgicas, com o objetivo de oferecer atendimento clínico e cirúrgico a uma população economicamente vulnerável e de municípios remotos através de uma medicina altamente qualificada e humanizada. Em 2023, em uma parceria inédita com a Força Área Brasileira (FAB), levou mais de 70 voluntários, entre professores, médicos e residentes da FMUSP até Barra do Garças, no Mato Grosso, A viagem, que teve início no dia 30 de junho e terminou em 10 de julho de 2023, realizou 300 atendimentos clínicos, 270 atendimentos ginecológicos, 117 cirurgias, e mais de 1000 exames de ultrassom, entre outros serviços, utilizando mais de 1,7 toneladas de equipamentos hospitalares, materiais e medicações. O resultado pode ser conferido em vídeo lançado no canal do YouTube.

O projeto é totalmente organizado pelos alunos da FM, que ao longo de um ano fazem todos os preparativos para levar as expedições a populações de locais remotos. Luiz Felipe Tojal, membro da diretoria da Expedição Cirúrgica, destacou a importância do projeto para a sociedade: “Além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, também trata patologias incapacitantes, como endometriose e incontinência urinária, proporcionando também aprendizado para as equipes dos hospitais locais, que aprendem a lidar com um grande fluxo de pacientes de forma humanizada”. 

A Associação formada por alunos e professores da FMUSP tem como objetivo garantir através do ensino, assistência e pesquisa, os futuros médicos e suas capacidades em áreas como ginecologia, anestesiologia, radiologia, cirurgia geral, patologia, entre outras, visando ao acesso à saúde e à difusão de conhecimento, além de incentivar a iniciação científica. 

“Nossa missão é contribuir para a formação social, acadêmica e profissional dos alunos da Universidade, por meio de ações que visam à melhoria das condições de saúde de populações vulneráveis do Brasil, além de deixar um  forte legado na região que visitamos no sentido de criarmos polos de cirurgia minimamente invasiva no País”, comenta o professor Maurício Abrão, idealizador da Expedição Cirúrgica.

Clique no player abaixo para conferir o vídeo:

.
Qualidade de vida

Através do projetos, alunos do curso saem de um centro urbano muito favorecido, com todos os recursos, como é o caso da capital de São Paulo, para conhecer a realidade brasileira, como destaca Antônio Coelho, aluno e ex-diretor do projeto: “O aluno conhece o Brasil de verdade, conhece a saúde pública realmente e não só isso, tem a oportunidade de difundir o conhecimento”. No total 40 professores acompanham os alunos na expedição. “O nosso papel é introduzir os alunos nessa vivência dentro da cirurgia, no cuidado completo do paciente”, afirma a médica ginecologista Marina Andres, informando ainda que eles acompanham as consultas pré-cirúrgicas, as indicações, os exames físicos ginecológicos e os outros exames até o momento da cirurgia, e também todo o pós-operatório. 

No município atendido pelo projeto, em Barra do Garças, muitas mulheres foram atendidas pelo projeto. Avisadas pela Secretaria da Saúde, aceitaram participar, e em seus depoimentos revelam que se não fosse pela expedição não conseguiriam realizar os procedimentos cirúrgicos, como laqueaduras, retiradas de miomas e outros. Segundo a médica, a ideia é selecionar casos mais simples que consigam ser resolvidos em um ambiente de menor complexidade. Para os professores, é uma oportunidade de compartilhar conhecimentos com alunos e médicos, como diz o médico ginecologista Luiz Brito, acrescentando que também é um grande benefício para a cidade, já que essas pacientes do sistema público de saúde podem realizar cirurgias que talvez demorassem alguns anos até serem encaminhadas para os centros cirúrgicos. 

Projeto de extensão Expedição Cirúrgica – Foto: Divulgação/FMUSP
Foto: Divulgação/FMUSP

.
Mesmo sendo procedimentos simples, a realização das cirurgias melhora a qualidade de vida das pacientes. Como diz Maria José, uma das moradoras da cidade que passou por um procedimento na bexiga, um tratamento desses é muito caro e realizar a cirurgia “é uma dádiva de Deus”. Para ela, só de saber que pode sair, ir para a igreja, para a casa da filha sem sentir dor “já é uma benção”. Outra moradora, Joyce Brenda, diz que nunca conseguiria fazer a cirurgia para a retirada de um mioma se não fosse pela equipe da expedição. Para a equipe da cidade que acompanhou o projeto, a expedição também foi uma grande oportunidade de troca de conhecimento, inclusive na área de equipamentos hospitalares. Foi uma experiência pioneira, que reduziu as filas do sistema de saúde de Barra do Garças.  

Para os alunos, foi um grande aprendizado e um passo importante na carreira profissional, já que puderam vivenciar na prática o que é uma cirurgia. Segundo Vitor Lauar, presidente desta edição, “para os alunos talvez o ganho seja ainda maior, porque através da expedição eles consegues ter uma vivência do que é a medicina de verdade”. Como ele destaca, a Medicina do Brasil não é aquela que está em grandes centros urbanos, em hospitais de referência, e sim aquela feita em locais com falta de equipamento e pacientes que estão há anos esperando por uma cirurgia. “É aqui que o aluno está aprendendo, e aprendendo também a ter uma formação social, passando a se preocupar mais com o próximo, formando um vínculo maior com a pessoa e não só com a Medicina”, afirma   

“Na expedição, eu recebo muito mais do que eu entrego”, diz a médica. “É um momento de ter contato com os alunos e uma forma de devolver um pouco do que aprendi. E também devolver para a sociedade o que eu recebi da USP como faculdade pública. Nosso papel é fazer um pouquinho pela sociedade, e se cada um fizer sua parte, doar um pouco do seu tempo e do seu trabalho, conseguimos fazer grandes mudanças”. Depois de nove dias na cidade de Barra do Garças, a conclusão é de que a expedição “foi um grande sucesso”, como declara Vitor. E conclui: “fico muito grato e muito satisfeito em poder contribuir com esse projeto que mudou a vida de centenas de pessoas”. 

Sobre o projeto

Desde 2013, a Expedição Cirúrgica atua com base em três segmentos: o Ensino, a Assistência e a Pesquisa. Segundo informações do site, surgiu como um ramo de outra grande extensão chamada Bandeira Científica, que ao longo de 15 anos de atuação já levou atendimentos de alta qualidade para os municípios remotos, com a realização de diversos exames, pesquisas, projetos assistenciais e um trabalho abrangente de mais de um ano com cada cidade selecionada. O projeto foi idealizado por um grupo de estudantes, sob a orientação do professor da FMUSP Maurício Abrão (associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia e responsável pelo Setor de Endometriose da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da FMUSP), com a coparticipação internacional da médica Rosanne Kho (Cleveland Clinic, de Ohio, EUA), que adaptaram parte da Bandeira Cientifica para atender às demandas cirúrgicas de cada município parceiro.

Realizado uma vez por ano, busca atender às demandas de uma população com pouca infraestrutura e sobrecarga do sistema de saúde, principalmente em cirurgias de baixa e média complexidade, oferecendo uma medicina de nível internacional e altamente humanizada. Uma parceria é firmada com o poder público local e após as atividades, um relatório completo é enviado para as autoridades. Tem também como objetivo a formação social, acadêmica e profissional dos alunos da FMUSP por meio de ações que visem a atender populações vulneráveis e melhorar as condições de saúde de localidades afastadas no Brasil. Além disso, o projeto permite que os alunos participantes adquiram uma visão a respeito da realidade brasileira, estimulando o interesse pela área cirúrgica, utilizando a melhor tecnologia existente, doada e financiada pelos apoiadores e patrocinadores do projeto. Os professores ainda incentivam a realização de pesquisas durante e após a expedição. 

Veja o vídeo na íntegra neste link e acompanhe o projeto Expedição Cirúrgica no Instagram.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.