Vencer o medo é necessário para a evolução humana

Leila Tardivo e Adalberto Studart afirmam que existem dois casos extremos, aqueles que não possuem medo e aqueles que possuem exageradamente, e em ambos é necessário tratamento

 21/02/2024 - Publicado há 2 meses
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Estudiosos analisam os efeitos do susto no organismo humano – Foto: Freepik
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Você já se perguntou o porquê de algumas pessoas se interessarem por histórias de terror, contos macabros ou esportes e aventuras radicais — às vezes por todos esses? Pois bem, esse tipo de passatempo, em geral, produz uma sensação de susto repentino e, logo em seguida, a sensação de “alívio pós-medo” domina o corpo humano.

Leila Tardivo – Foto: Arquivo Pessoal

Diante desse cenário, a professora Leila Tardivo, do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), explica que esse sentimento é necessário para que o indivíduo evolua, uma vez que isso proporciona um impulso para vencer o medo e, dessa forma, ele se satisfaz. No entanto, ela alerta que aqueles com maior vulnerabilidade psíquica ou sensorial — como idosos, crianças ou pessoas no espectro autista — devem tomar cuidado.

Sob outro ponto de vista, Adalberto Studart, pesquisador do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), desenvolve: “O desencadeamento da resposta do sistema nervoso autônomo simpático libera adrenalina, o hormônio da luta ou fuga, isso causa sensação de prazer”. Ele ainda complementa que o susto é um estímulo transitório e, pouco tempo depois, o indivíduo tem a noção de que não possui risco para sua integridade de vida.

O que acontece quando levamos um susto?

Adalberto Studart – Foto: Arquivo Pessoal

Quando o indivíduo sofre o susto, automaticamente é aumentada sua pressão arterial, frequência respiratória e sudorese, os pelos ficam arrepiados e sua pupila é dilatada — isso é uma ação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático, que prepara a pessoa para uma possível fuga ou combate físico. “Seus órgãos sensoriais primeiro captam, você vê, sente e escuta. Esses órgãos sensoriais levam essa informação para a amígdala, que desencadeia o processo e leva à ativação do sistema nervoso autônomo simpático”, comenta o especialista.

Para Leila Tardivo, essa sensação é uma reação intensa de ameaça, porque é algo que sai da rotina do dia-a-dia e remonta aos tempos dos seres humanos primitivos, quando tinham de se esconder dos predadores nas cavernas: “É uma reação de alerta, nós sempre buscamos o bem-estar, o equilíbrio, então é algo que rompe isso”.

Além disso, Studart alerta que existem casos de pessoas que, durante um estímulo ao susto, sofrem uma parada cardíaca — indivíduos que já possuem alguma doença no coração — pela resposta adrenérgica. Ou seja, a expressão “vou morrer de medo” pode ser literal.

Outro ponto indicado pela docente é para situações extremas, como nas experiências vividas nas guerras, em desastres naturais ou acidentes, nas quais os indivíduos sofrem com traumas tão fortes que tanto o corpo quanto o psicológico não dão conta. “A comunidade internacional que trabalha com saúde mental está muito preocupada com os efeitos do desenvolvimento das crianças, principalmente nesses locais com excesso de traumas”, afirma.

O medo

De acordo com Leila, o medo é uma reação natural e necessária para o indivíduo, que leva à sua proteção enquanto espécie, contudo, ela ressalta que o seu excesso, muitas vezes infundado, leva a uma patologia: transtorno do pânico. Ela diz que existe um desequilíbrio voltado a alguma situação vivida, que possui um aspecto bioquímico e necessita de tratamento — sejam consultas psicólogas ou, até mesmo, medicamentos: “Não há uma ameaça real, mas é vivido como um risco fantasioso e a reação é física. Não é necessariamente algo patológico, mas traz sofrimento”, conta.

A psicóloga ainda comenta que uma pessoa sem medo corre muitos riscos, entre eles a “onipotência exagerada”, na qual o indivíduo acredita poder fazer qualquer coisa sem possuir consequências negativas para si. Segundo ela, o que ajudou o ser humano na conformação do medo foi o desenvolvimento da inteligência e a união entre a espécie, isto é, a pessoa necessita de apoio para superar momentos difíceis.

Para finalizar, Leila Tardivo garante que é necessário a coletividade humana para que os indivíduos cuidem um do outro: “As pessoas podem reconhecer os seus sintomas, seus sinais, saber procurar ajuda, não entrar em desespero e não achar que são a única pessoa no mundo com isso”.

*Sob orientação de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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