Sistema prisional e a internet: essa dupla continua junta

A internet deve ser usada na formação de futuros profissionais que serão reintegrados na sociedade ao final do cumprimento da pena

 01/09/2023 - Publicado há 8 meses
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Esta  semana vamos falar sobre as prisões brasileiras e a restrição no acesso à internet. O tema é polêmico.  Ninguém está dizendo que o indivíduo encarcerado tem que ter acesso à mídia social, até porque existem várias estruturas para que a pessoa possa explorar alguém do lado de fora, possa fazer parte de uma facção criminosa, possa dar um golpe em alguém. Tem que cortar a internet e faz parte das restrições de liberdade do indivíduo restringir o uso de mídia social, porém, é preciso repensar o que a gente está tentando fazer com esse ser humano que está preso.

Para que serve uma prisão? Ela não é uma gaveta na qual eu enfio alguém lá dentro e vou tirar dali a oito anos para deixar o cara de castigo. Quer dizer, a ideia de uma prisão é tirar esse indivíduo do contato social, porque ali ele é perigoso, pode praticar mais crimes. É preciso colocá-lo num lugar onde vai ser recuperado para depois reinseri-lo na sociedade tradicional. É comum ouvir dizer que o grande problema de muitas prisões é que algumas são escolas do crime. O indivíduo entra lá e, como ali não tem nada para fazer, ele aprende a se tornar um bandido. Então, se a ideia é recuperar um indivíduo, dá para usar a internet de um jeito muito melhor.

Primeiro, isolar ou vigiar a comunicação externa. Quer dizer, todo mundo fala que o Google vigia você, a Amazon vigia você,  a Apple vigia você. Então, usando a comunicação dentro de uma prisão, você pode vigiar toda a comunicação que o preso faz com o mundo exterior. Sem contar que ele pode incriminar parceiros de crime. Então, primeiro você já deixa isso claro: quer se comunicar para fora, comunica, só que a gente está ouvindo. Segundo, começa a bloquear uma série de coisas. Limitar o horário e usar a parte boa da internet. Você percebe assim que o indivíduo está preso e pode sair dali melhor, usar a biblioteca de presídio para o sujeito aprender a ser eletricista, aprender a ser técnico de som e depois poder ser contratado pela sociedade. Esse indivíduo vai sair melhor e a sociedade vai querer reintegrá-lo, porque ele vai ser um bom profissional.

Não estamos propondo que a prisão seja um grande resort, um lugar para a pessoa simplesmente ficar lá relaxado e vendo vídeo do Tik Tok ou vendo pornografia. Não! Não estou propondo um contato livre imediato com o mundo  externo, porque senão se tira toda a ideia de prisão. Mas qual é a alternativa? O que a gente espera para uma sociedade funcional. Se a gente tem uma sociedade e a sociedade tem prisões, então a prisão tem que exercer uma função e a internet pode ajudar muito. É preciso parar de pensar que aquele indivíduo que foi parar na prisão é uma carne ruim, é uma cabeça ruim e vai ter que ser tratado como uma fruta podre para o resto da vida. Muitas vezes, o cara foi parar na prisão por vacilo e ele pode sair de lá uma pessoa melhor.


Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.

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