Mudanças climáticas têm gerado uma série de impactos ao redor do mundo. Dentre eles, o efeito na vinicultura é o que chama a atenção do professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo. Como explica o professor, o cultivo da uva que será destinada à produção de vinhos segue padrões diferentes das demais frutas. “A qualidade do vinho resultante do cultivo é melhor se essa uva for plantada em solos pobres, arenosos e com baixo índice de pluviosidade. Também é interessante uma diferença térmica significativa entre o dia e a noite. Preferencialmente, com o inverno mais rigoroso, quando as plantas podem ficar num estágio de dormência”, conta.
Côrtes aponta que, com o aumento da temperatura global, o teor alcoólico dos vinhos subiu além dos padrões anteriores. As mudanças têm gerado safras com maior concentração de açúcares, que, durante a fase de fermentação, são convertidos em álcool.
Excesso de oferta
De acordo com o especialista, por oferecer um clima mais rigoroso, as mudanças climáticas, inicialmente, têm impactado positivamente as vinícolas. Cada vez mais áreas vêm oferecendo um aquecimento excessivo durante o dia e uma temperatura mais resfriada à noite, oferecendo diferenças de temperatura rigorosas e menos disponibilidade de água no solo, o que contribui para uma melhor qualidade de produção.
Porém, segundo o docente, os produtores já começam a projetar que essa melhora substancial na qualidade de seus vinhos pode trazer prejuízos futuros. “Anualmente, os produtores de vinho se reúnem e avaliam se a safra daquele ano será considerada uma safra especial. Essas safras especiais são sempre muito valorizadas em função de sua raridade. Como condições rigorosas têm se tornado cada vez mais comuns, as safras de vinho especiais têm se repetido com mais frequência. Este século, por exemplo, proporcionalmente já conta com mais safras especiais que o passado”, esclarece.
Novas áreas capazes de atingir esse patamar de produtividade especial vêm surgindo por conta desse mesmo fenômeno. Lugares como a Patagônia e a região de Mendoza, na Argentina, áreas ao sul do Chile, como a encosta dos Andes, vêm se tornando novos focos da vinicultura. “O Chile concentrava a sua produção mais ao norte, acima de Santiago, que é uma área mais suscetível a invernos rigorosos. Recentemente, o Chile começou a produzir também no sul do país, na área próxima ao litoral chamada de costa fria, uma área que antes não era interessante para esse tipo de cultivo”, finaliza.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.