Elizabeth Holmes: do endeusamento à execração

Marília Fiorillo comenta o caso da fundadora da Theranos, tida certa vez como um novo Steve Jobs, mas que, na verdade – como se provou – , não passava de uma farsa

 19/05/2023 - Publicado há 11 meses

Logo da Rádio USP

“Numa semana de grandes reviravoltas, gente que era endeusada pela opinião pública e tida como excepcional em suas missões levou tombos gigantescos e passou a ser demonizada como execrável, mentirosa, manipuladora.” A professora Marília Fiorillo refere-se ao caso de Elizabeth Holmes, nos Estados Unidos, que foi apontada como o novo Steve Jobs e não passava de uma farsa. “Holmes, em seu indefectível uniforme preto de gola alta e olhos que jamais piscavam, chegou a ser celebrada como a maior estrela do Vale do Silício quando fundou a Theranos, um  modelo de operadora de saúde que prometia baratear e tornar acessíveis os mais variados exames e diagnósticos, bastando para isso que o paciente fornecesse uma única gota de sangue.  Holmes foi capa de várias revistas de prestígio e recebeu o aporte financeiro de graúdos e poderosos, entre eles Henry Kissinger e Rupert Murdoch. Ela dizia ter desenvolvido uma biotecnologia especial, cercada de total sigilo, para operar tal milagre. Até que se descobriu que sua invenção, o kit gotinha, não funcionava. As máquinas quebravam, os resultados davam errado e passou-se a terceirizar os exames, clandestinamente, usando a tradicional técnica laboratorial para que caísse o índice de resultados errados.”

De acordo com Marília, o caso Theranos é exemplar e pode ser comparado ao de outras operadoras de planos de saúde. “Há uma cultura de seita religiosa, por exemplo, que exige dos funcionários de tais empresas de saúde uma devoção visceral, às vezes regada a hinos diários de empolgação e sempre vigilantes no acobertamento e obediência aos desmandos e negligências da chefia. Algo como uma espécie de cultura ‘cloroquina para cima de todos, e gordos lucros através do embuste’. A fraude funcionou anos, até ser desmascarada por uma reportagem do The Wall Street Journal, que frisava que muitos funcionários até sabiam, mas o ‘misto de terror e lavagem cerebral os impedia de denunciar’. A partir do próximo dia 30 de maio, e após alguns recursos, Holmes estará atrás das grades. Planos e operadoras de saúde, de outros cantos do mundo, que vivem descredenciando hospitais e laboratórios, dificultando os procedimentos e submetendo os clientes ao suplício de nunca serem atendidos pelos fantasmagóricos call centers, poderiam muito bem aprender a lição”.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.