“Cautela deve marcar o uso da inteligência artificial no meio jurídico”

Glauco Arbix cita os resultados de estudo realizado na Universidade de Stanford sobre o uso dos sistemas de IA no meio jurídico

 13/02/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 15/02/2024 as 8:37
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Nesta edição de sua coluna, Glauco Arbix constata que o número crescente de usuários, o aumento do investimento e a busca por maior poder  deixam claro que o esforço para incorporar a inteligência artificial nas empresas, governos e universidades não somente não diminuiu, como exibe fortes sinais de aceleração neste ano de 2024. Ele toma como exemplo a penetração da inteligência artificial no meio jurídico, onde existe muita pressão para a incorporação dessa tecnologia devido à suposta diminuição de custos que proporciona, entre outras vantagens.

“Porém, nada como um olhar atento, mais criterioso, para diminuir qualquer euforia, como é praxe nas boas universidades, aqui na USP, por exemplo. O exame criterioso da penetração da inteligência artificial no meio jurídico mostra que esses grandes modelos não podem prescindir  de bons advogados, assim como as fábricas não podem prescindir de seus operários e as escolas de seus professores”, diz o colunista, antes de observar que, “ao automatizar processos legais, as máquinas devem assistir, ajudar e não substituir os advogados”.

Em relação ao uso da IA precisamente no meio jurídico, Arbix cita conclusões de uma pesquisa realizada na Universidade de Stanford. O resultado foi que 75% das vezes que esses chatbots foram chamados para dar respostas, eles erraram, as respostas foram equivocadas, distorcidas ou fantasiosas. “Ou seja, o ChatGPT alucinou no meio da pergunta”. Os chatbots foram mais precisos quando avaliaram as decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos, “mas cometeram muitos erros, com muito maior frequência, quando a jurisprudência era perguntada nos tribunais”. O segundo ponto é que a pesquisa também detectou que o desempenho dos sistemas de inteligência artificial se deteriora quando aborda questões mais complexas, revela o colunista. “Isso significa que, do ponto de vista geral, a pesquisa identificou que as alucinações não ocorrem apenas isoladamente, pelo contrário, são generalizadas e, por isso mesmo, inquietantes: as taxas de alucinação variaram de 70% a 88% em respostas a consultas legais específicas”.

O colunista acrescenta que “a grande repercussão do estudo amplificou as desconfianças sobre a confiabilidade desses chatbots, pelo menos para os contextos legais, e ressaltou a importância exatamente de você não abandonar uma visão crítica, uma visão dos limites desses sistemas, e cautela é a palavra que deve marcar o uso da inteligência artificial no meio jurídico, para que o potencial positivo dessas tecnologias se realize”.


Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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