Em Assembleia e Conferência Anual do Conselho Internacional de Aeroportos da América Latina e Caribe, aeroportos brasileiros foram reconhecidos por suas ações de sustentabilidade, entre eles o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte. Além disso, um ranking da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) destacou os Aeroportos de Porto Velho e Boa Vista.
O professor Jorge Eduardo Leal Medeiros, da disciplina de Transportes Aéreos e Aeroportos da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo, aborda a preocupação com o avanço da sustentabilidade na área aeroportuária.
Sustentabilidade
Segundo o especialista, existe o planejamento para tornar a aviação neutra em carbono até o ano de 2050, ela que atualmente é responsável por cerca de 2% da emissão global. Isso será feito a partir de produção de aviões elétricos e “carros voadores” (eVTOL), que também irão substituir os helicópteros em distâncias curtas na mesma cidade.
Ao parar no chão, de acordo com o docente, o avião deve se manter ligado e isso é feito por meio de um gerador de energia — uma turbina a jato pequena, conectada ao rabo da aeronave — chamado de APU (Unidade Auxiliar de Potência), que possui um custo elevado e consome combustível. “Então está se pensando, nos aeroportos maiores que possuam ponte de embarque, em usar a energia elétrica do aeroporto diretamente para o avião, sem precisar desses geradores”, completa.
Para além das aeronaves, os automóveis de transporte de carga e dos próprios aviões são os outros meios de contaminação por carbono e, nesse sentido, a energia elétrica deve mitigar esse problema. Medeiros destaca também que a captação de água e de luz solar são possibilidades para diminuir a emissão do poluente.
No entanto, essa eletrificação irá demorar para surtir o efeito necessário e, com isso, está se consolidando o avião movido a célula de hidrogênio. O professor destaca o Combustível Sustentável de Aviação (SAF), que tem o objetivo de substituir o querosene de aviação, feito com base em origem vegetal ou gordura animal e, apesar de custar até quatro vezes mais que o querosene, deve se tornar o principal combustível no futuro.
“O Brasil tem um potencial imenso pela área que possui, pela agricultura e pode se tornar o maior fornecedor de SAF no mundo. Eu espero que o governo fique atento a isso, é um investimento que vale para o futuro em termos de despoluição e de exportação”, afirma Medeiros.
Incentivos privados e estatais
Conforme o especialista, a concessão dos principais aeroportos brasileiros foi favorável para que houvesse uma maior eficiência em suas operações — a Infraero é responsável pela gestão apenas do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Para ele, há uma tendência para que se capte conhecimentos e tecnologias do exterior, diante do padrão elaborado pela Organização de Aviação Civil Internacional (Oaci).
O Brasil, inclusive, foi o país mais votado na última eleição de membros para o Conselho da Oaci, o que demonstra a importância da participação da nação brasileira nesses debates. Ele cita o programa Aeroportos Sustentáveis, elaborado pelo governo federal em 2019, que visa a incentivar a sustentabilidade nos aeródromos.
Medeiros discorre sobre a necessidade de aproximação da área acadêmica, em especial da engenharia, com a aplicação prática das empresas: “Isso é muito importante, nós vemos isso bem desenvolvido em outros países, com aviação avançada, e nós temos que fazer isso aqui. Infelizmente, eu acho que existem entraves burocráticos, mas nós esperamos que isso vai ser diminuído ao longo do tempo”.
A empresa Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, já foi responsável pela venda considerável de carros voadores, mesmo sendo ainda uma tecnologia em desenvolvimento, que utiliza baterias de íon-lítio. “Nunca vimos, em termos de desenvolvimento de tecnologia, uma coisa que tenha sido tão vendida com antecipação em relação à operação real.” Nesse cenário, ele ressalta que o descarte dessas baterias é um problema para a sociedade, que ainda não desenvolveu uma maneira efetiva de controle.
Por fim, o professor afirma que o Brasil, pioneiro na produção de etanol, tem todas as condições para continuar utilizando combustíveis fluidos — ou seja, deve-se focar, a curto prazo, nos automóveis híbridos e, dessa forma, reduzir o impacto de carbono na atmosfera.
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