Acidente vascular cerebral ainda representa maior parte das mortes no País

José Guilherme Caldas diz que a conscientização é o caminho para que mortes e episódios causados pelo AVC sejam evitados

 31/10/2022 - Publicado há 1 ano
As causas para a formação dos coágulos são múltiplas, mas existem fatores determinantes – Foto: MrDevlar / Visual Hunt

 

Logo da Rádio USP

No último sábado, dia 29, comemorou-se o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), que foi a causa mais comum de morte este ano no Brasil, com cerca de 56.320 óbitos, segundo o Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil. 

O que é um AVC

José Guilherme Caldas – Foto: Reprodução HCor

O acidente vascular cerebral são danos causados ao cérebro tanto pela falta de sangue (isquêmico), o qual é o mais comum  (popularmente conhecido como derrame), quanto pelo excesso dele, quando há vazamento (hemorrágico). Quando uma artéria cerebral entope, o acidente acontece. 

“Em 2015, nós conseguimos provar para o mundo que, retirando um coágulo da cabeça, do interior da artéria, em menos de duas horas nós recuperamos praticamente 100% dos pacientes e, em até 6 horas, 80%. Então, isso é muito importante de ser reconhecido”, diz José Guilherme Caldas, neurorradiologista e diretor clínico do InRad do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Ele explica que as causas para a formação dos coágulos são múltiplas, mas existem fatores determinantes e que se sobressaem, como a obesidade, o tabagismo e o álcool. Esses três são passíveis de mudança, já que se trata de hábitos adquiridos. 

Outros fatores são mais difíceis de controlar, pois são consequências e aumentam muito o risco de AVC. São eles: pressão alta, colesterol alto, sedentarismo e principalmente a predisposição genética (que também está associada ao aumento do colesterol). O neurorradiologista destaca que a prevenção é a principal forma de evitar o acidente e, em segunda instância, saber como identificar quando a pessoa está sofrendo um AVC e necessita de tratamento. 

Como identificar 

José Guilherme diz que uma maneira simples de identificar quando alguém está sofrendo um AVC é lembrar da sigla SAMU, utilizada tanto no País quanto fora dele, como sinal de emergência. Cada letra da sigla, portanto, sinaliza uma ação para verificar o que realmente está acontecendo e encaminhar para o tratamento médico.

S de sorriso (peça para a pessoa dar um sorriso para ver se ele está torto); A de abraço (a pessoa não consegue abraçar, pois seus movimentos ficam limitados); M de música (peça para que a pessoa soletre uma música, um parágrafo ou até um nome. Durante um AVC, não é possível falar corretamente); e, por fim, U de urgência (caso algum deles se concretize). 

O acidente vascular cerebral pode ser sutil ou importante, lembra o médico, por isso sua identificação precoce é vital. Outra informação lembrada por ele é a possibilidade de acontecer o AVC durante o sono, o que é chamado de Wake-up Stroke. A pessoa acorda com algum dos sintomas citados acima. Este representa um problema para os médicos, já que não é possível identificar o momento de início, o que é crucial para o atendimento nesses casos. 

“Nós recorremos aos métodos de imagem para poder saber e entender a quantidade de cérebro que está afetada que nos permite ou não trabalhar”, explica Caldas. Esse método é utilizado no Inrad, do Hospital das Clínicas da FMUSP. 

Ele lembra também que “a urgência é muito importante porque no cérebro, depois que morre uma parte considerável dele, não é possível fazer nenhum tratamento, porque é você colocar o sangue de novo em pressão dentro do cérebro. Tem como se fosse uma ruptura dos vasos, eles não aguentam, eles estão já mortos, com necrose”. A tecnologia evoluiu tanto que agora é possível saber se vale a pena tratar o paciente, já que, em alguns casos, a perda é grande e irreversível. 

Estresse pode causar AVC? 

O neurorradiologista diz que o estresse está diretamente ligado às consequências que podem levar ao AVC. Esse fator está dentro do âmbito da proteção, já que produz hormônios que podem levar a uma piora no quadro da hipertensão ou ao desenvolvimento dela. A questão é tentar evitar, controlar ou eliminar o estresse, já que é uma combinação de fatores que não fazem bem. Isso, porém, é de preocupação individual e está relacionado à atividade diária de cada um. 

Para isso, ter exames em dia e estar atento aos casos de AVC na família são imprescindíveis para que o problema seja evitado. No âmbito público, o fator de conscientizar a população é um caminho para que os números revelados pelo Portal da Transparência sejam revertidos: campanhas em todos os meios de comunicação e, talvez, um dia, discutir com educadores que conscientizem as crianças de como ter hábitos alimentares saudáveis. 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 

 

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.