A evolução das espécies vista através dos olhos

Mutações e a seleção natural permitiram a existência de organismos cada vez mais complexos

 13/03/2024 - Publicado há 2 meses

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Nesta edição de sua coluna, Eduardo Rocha aplica o conceito de evolução das espécies, formulado por Charles Darwin no século 19, à complexidade estrutural e funcional dos olhos. De acordo com ele, as análises simplistas procuravam desarmar a teoria da evolução, afirmando que seria impossível, mesmo em milhões de anos, que chegássemos a ter olhos tão eficientes em tantos aspectos. “Imagine que olhos diversos, como esses dos insetos, cheios de multiplicidade, os tão precisos como dos animais caçadores e os olhos que funcionam tão bem em ambientes adversos, como o oceano salgado ou o deserto, teriam evoluído por tentativa e erro.” A dúvida abre perspectiva para entender a complexidade desse fenômeno evolutivo dos seres vivos ao longo de milhões de anos.

Em estudo publicado em março, na revista Science, Rebecca Varney e colaboradores observaram que, no filo dos moluscos, dois gêneros que possuem origem evolutiva comum e características similares acabaram desenvolvendo olhos com características diferentes; em uma determinada espécie, os olhos evoluíram para grupos de células fotossensíveis na forma de pequenos bulbos fechados, e, na outra espécie, eles evoluíram para pequenas conchas abertas, tendo assim estruturas bem diferentes, apesar de funções e origem semelhantes. Isso foi possível, de acordo com Rocha, ao se observar as características microscópicas dessas espécies próximas e fósseis preservados com sinais dessas mudanças.

Considerando que o tempo estimado para os olhos dos vertebrados que hoje conhecemos teria evoluído ao longo de 30 milhões de anos, esse processo dos moluscos, tendo ocorrido por um período tão rápido como 2 milhões de anos, pode ajudar a entender os fenômenos ambientais e genéticos que teriam provocado essa diferença evolutiva em seres aparentados, ou seja, os fatores decisivos ao longo do tempo, um conceito nomeado de dependência da trajetória. “Os autores relatam que a evolução é um fenômeno biológico, mas também histórico, e assim ajuda a compreender a dependência da trajetória e também estimar a previsibilidade da evolução, que fatores são decisivos para que aconteça uma determinada pressão, uma determinada seleção no caminho evolutivo. A gente chega então que o estudo da evolução de um sistema tão complexo e desafiador quanto o dos olhos pode ajudar a entender como chegamos até aqui e também fazer previsões sobre as futuras gerações.”


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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