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Por Simone Lemos

                                                                                                                                                                                                                                      

                                                                                 

Se eu pudesse, iniciaria nossa coluna com um tango bem dramático, interpretado por Carlos Gardel. Digo isso porque estou em Buenos Aires, participando de uma bela jornada de estudos promovida pelo CeDinCi (Centro de Documentação e Investigação de Culturas de Esquerdas) em torno da temática Edição e Revolução na América Latina. Impossível estar em Buenos Aires e não falar de livros. Aliás, as livrarias estão se renovando, sem que as antigas fechem suas portas. Mas não quero falar de livrarias. Eu gostaria de compartilhar com os nossos ouvintes a visita que fiz à sede da Editora Ampersand.

Eu acompanho há muitos anos a produção da Editora Ampersand. O catálogo deles é muito bem estruturado, o tipo de catálogo no qual a gente percebe uma curadoria segura, de profissionais que gostam do que fazem e, sobretudo, amam os  livros. Conversei longamente com a editora Ana Mosqueda – aliás, uma mulher multitarefa. Ela é formada em Letras, fez seu doutoramento sob a orientação de António Castillo Gomez, da Universidad de Alcalá de Henares, na área de Epistolografia, e é docente da Universidade de Buenos Aires. Mas eu senti que, apesar de todas essas atividades, a Ampersand tem um papel central na sua vida.

Um destaque do catálogo é justamente a coleção Scripta Manent, dirigida, aliás, por seu antigo orientador, Castillo Gomez, cujos títulos se voltam para a cultura escrita. Estamos a falar de um catálogo muito variado, em que há estudiosos argentinos e europeus, e eu destaco um livro interessantíssimo – que já comecei a ler! – Kant en el kiosco, de Guido Herzovich, que, além de trazer anedotas saborosas sobre a cultura editorial argentina, apresenta com dados e muito engenho uma discussão muito rica sobre a constituição do mercado editorial no país, a formação de seu público e as infraestruturas culturais.

A Ampersand se localiza em um casarão belíssimo, bem pertinho do Malba, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires e, além das edições sobre livros, cultura escrita, literatura, artes e temas afins o espaço mantém uma biblioteca especializada nos temas que edita e, como Ana Mosqueda me contou, eles se dedicam, hoje, à realização de encontros, palestras, enfim, de programas culturais que aproximem o público do mundo das letras. Enfim, além do prazer de conhecer, conversar e folhear os livros da Ampersand, a minha visita revelou um modelo de negócio editorial muito promissor, que faz da editora um espaço de sociabilidade, de aprendizado, pesquisa, enfim, de vivência cultural. Vida longa à Ampersand!

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