USP Analisa #108: Alterar legislação com menos de dez anos traz riscos ao desenvolvimento da tecnologia

Em entrevista ao USP Analisa, especialistas discutem leis já existentes que podem ser usadas na regulação da inteligência artificial no Brasil

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 16/06/2023 - Publicado há 11 meses
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USP Analisa #108: Alterar legislação com menos de dez anos traz riscos ao desenvolvimento da tecnologia
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Ter uma legislação específica que regule o uso de tecnologias envolvendo inteligência artificial é algo debatido já há alguns anos no Brasil. Mas será realmente necessário criar um novo dispositivo ou o regramento que já existe seria capaz de atender essa necessidade? Os professores Cristina Godoy, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP, e Evandro Ruiz, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, conversaram sobre o tema com o USP Analisa.

Cristina citou o Projeto de Lei 21/2020, de autoria do deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE), que criava o marco legal do desenvolvimento e uso da Inteligência Artificial. Apesar de aprovado na Câmara, no Senado ele acabou englobado por um outro, o PL 2.338/2023, proposto pelo presidente da casa, Rodrigo Pacheco.

A professora explica que no sistema jurídico brasileiro existem dois tipos de responsabilidade: a responsabilidade subjetiva, na qual é preciso demonstrar que uma ação gerou dano e comprovar a culpa do autor dessa ação; e a responsabilidade objetiva, que exige apenas a existência da ação e do dano, sem a necessidade de comprovação da culpa.

“O regime geral no PL 21/2020 era exatamente de responsabilidade civil subjetiva. Aí muitos falaram que deveria ser objetiva. Mas o Código de Defesa do Consumidor já previa a responsabilidade objetiva. E a maior parte dessas situações vai envolver o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Falar do regime de responsabilidade civil subjetiva quando não se aplica o CDC é raro, então não tinha porque discutir tanto sobre esse assunto”, diz ela.

Já o professor Ruiz lembra que o Marco Civil da Internet, que entrou em vigor em 2014, teve uma tramitação longa e bastante contestada, mas hoje é o documento no qual a computação se espelha para crescer. Para ele, alterar ordenamentos como o Marco, que foram criados há menos de dez anos, traz riscos ao desenvolvimento da tecnologia no país.

“Isso pode até provocar uma erosão dessas empresas de inovação e eventualmente até provoca uma fuga dos cérebros do Brasil para desenvolver aquela boa ideia num outro lugar. Se a gente discutir agora um documento e tiver um consenso, que a gente aprove esse documento e teste ele por alguns anos. A gente sabe que, se a sociedade muda, obviamente o ordenamento jurídico vai mudar. Mas é preciso ter uma estabilidade. Que essas regras permaneçam por um tempo para a gente poder experimentar, ver o que deu certo e o que não deu certo. E acho que dez anos é pouco. Para a computação, é pouco”.

Cristina e Evandro também integram o Grupo de Estudo Direito e Tecnologia – TechLaw do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP.

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O USP Analisa Vai ao ar pela Rádio USP quinzenalmente às sextas-feiras, às 16h:45, e também está disponível nos principais agregadores de podcast. O programa é uma produção conjunta da Rádio USP Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP. Apresentação e edição: Thaís Cardoso. Produção: João Henrique Rafael Junior. 

 

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