Sociedade em Foco #185: O principal erro de candidatos a prefeito é se concentrar nas intenções

José Luiz Portella explica que, para a formulação de políticas públicas, o mais importante é analisar a sua possibilidade de aplicação

 26/03/2024 - Publicado há 1 mês
Momento Sociedade - USP
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Sociedade em Foco #185: O principal erro de candidatos a prefeito é se concentrar nas intenções
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A formulação de políticas públicas, muitas vezes, é marcada por falhas conceituais dos candidatos a prefeito, que expõem suas intenções, mas sem garantias de aplicação. Para José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da Universidade de São Paulo, essas falhas ocorrem por dois motivos principais: a ação defensiva diante de pesquisas sobre intenção de voto e a expectativa das intenções, na formulação de programas e políticas públicas, do candidato, sem contar com a realidade.

“Em quase todas as cidades, o sujeito reage à pesquisa de uma maneira defensiva, em vez de aceitar que aquilo é uma fotografia do momento e que ele vai tirar lições para mudar essa fotografia para aquilo que ele quer, ele age de uma forma defensiva”, explica o especialista. Ele ainda alerta que, muitas vezes, os candidatos afirmam serem desconhecidos para falar que possuem pouca rejeição e, portanto, irão subir nas intenções de voto.

“Ter uma rejeição menor também é uma possibilidade, mas não garante que você vai estourar na intenção de voto, porque uma rejeição menor pode significar exatamente desconhecimento. O mais importante é a postura do candidato, em vez de ele ir na pesquisa e observar o que está dando errado, quais são os públicos que o rejeitam, para tomar uma atitude que modifique isso, ele não faz, toda crítica é respondida com uma questão defensiva. Então, isso é uma outra coisa que atrapalha muito o eleitorado e a realização de políticas públicas”, adiciona o pesquisador.

Contudo, Portella explica que o principal erro é a concentração somente na intenção, sem levar em consideração a realidade que vai ser enfrentada. “Na verdade, intenção não resolve, o que resolve é mostrar como você vai transformar aquela intenção em realidade. Isso passa por ter um conhecimento da máquina da administração pública municipal, saber se ela está preparada para desenvolver aquela política. Como se sabe, também, numa máquina da Prefeitura tem gente de todas as ideologias, então tem resistências, e os candidatos não tratam nunca dessas resistências”, comenta.

O especialista ainda explica que não levar em consideração as perspectivas de maioria ou minoria na Câmara Municipal e acreditar que o sucesso da política pública depende somente da intenção do candidato mostram uma total inexperiência e falta de preparo para a gestão. “A questão não é só discutir políticas públicas, é discutir como elas serão aplicadas”, finaliza.


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