Nas décadas de 1950 e 1960, no período da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a então União Soviética, alguns brasileiros viajaram à Rússia. “Muitos se deslumbraram com a sociedade observada, mesmo estando num sistema político fechado, enquanto outros rechaçaram as diferenças sociais encontradas e a falta de liberdade”, contou a pesquisadora Raquel Mundim Tôrres. Ela é autora do estudo Transpondo a Cortina de Ferro: Relatos de Viagem de Brasileiros à União Soviética na Guerra Fria (1951-1963) e explicou aos Novos Cientistas, em entrevista concedida no dia 25 de julho, detalhes de sua pesquisa, em que analisou a representação que cada viajante teve da experiência de visitar a URSS.
Entre os viajantes, juízes, escritores, jornalistas, professores e operários. “A representação que cada viajante construiu da região, quando transpôs a fronteira, variou de acordo com sua posição ideológica na época em que realizou a viagem, normalmente planejada por duas instituições estatais russas, a Voks e a Intourist”, contou a historiadora. Segundo Raquel, as narrativas possuem um viés historiográfico instigante e documental. Os brasileiros que viajaram para a União Soviética a lazer também tiveram uma missão política. “Compreender os trâmites de uma sociedade, observar seu cotidiano, anotar informações e dados passados pelos guias e, finalmente, se posicionar sobre o que era observado”, afirmou a historiadora. Dentre os turistas, foram encontrados vários personagens ilustres, inclusive da literatura brasileira, como os escritores Jorge Amado e Graciliano Ramos, conhecidos por serem comunistas. A pesquisa foi realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.