Minuto Saúde Mental #53: O que faz com que uma pessoa seja considerada psicopata?

Mesmo com a glamorização dessa condição psíquica na mídia, é importante ter clareza de que todo transtorno traz prejuízo à vida do indivíduo, ao grupo do qual faz parte e à sociedade, e por isso precisa ser tratado, afirma o psicólogo Ildebrando Moraes de Souza

 26/05/2022 - Publicado há 2 anos
Minuto Saúde Mental - USP
Minuto Saúde Mental - USP
Minuto Saúde Mental #53: O que faz com que uma pessoa seja considerada psicopata?
/

Para responder a essa pergunta, o professor João Paulo Machado de Sousa, no Minuto Saúde Mental desta semana, ouviu o psicólogo judiciário Ildebrando Moraes de Souza. Segundo Ildebrando Souza, os psicopatas ou sociopatas são personagens que despertam medo e curiosidade em muita gente. Frequentemente destacados pela imprensa em casos criminais famosos ou em obras de ficção como filmes e séries de televisão, são apresentados como pessoas com características que combinam inteligência, charme pessoal, falta de empatia e a capacidade de estabelecer relações disfuncionais, cometer crimes ou causar prejuízo a outras pessoas sem sinais de remorso.

Ainda de acordo com Ildebrando Souza, os manuais que descrevem e classificam os transtornos mentais (DSM e CID) não utilizam mais as expressões psicopatia ou sociopatia para se referir a esse quadro (há controvérsia quanto a serem sinônimos e sobre possíveis diferenças entre um termo e outro, mas nenhum deles é considerado adequado em termos clínicos). “O descritor clínico atualizado é Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). Há estudos que consideram a psicopatia uma categoria à parte, que foge à classificação clínica ou que vai além dela (uma forma maligna de TPAS) e que se afilia puramente ao campo criminal, por isso não considerada nos manuais clínicos.”

Sobre a evolução, diz o psicólogo, o consenso atual é que esse tipo de transtorno é crônico, frequentemente com manifestações percebidas desde a infância (crueldade com animais ou pessoas, agressividade, oposição e quebra de regras como padrão), que são intensificadas na juventude e idade adulta e que podem apresentar declínio à medida que o indivíduo envelhece.

Pessoas com TPAS tendem a não procurar ajuda ou tratamento para sua condição e há razões importantes contribuindo para isso. Uma delas é que, assim como ocorre com outros transtornos de personalidade, o problema é melhor identificado por outras pessoas que convivem com a pessoa afetada e sofrem o incômodo causado por seu comportamento. Na verdade, mesmo que seja identificado pelo portador, o TPAS pode ser interpretado como vantajoso ou prazeroso e, por isso, o indivíduo não pretende curar-se.

Em sentido contrário à valorização dessa condição psíquica na mídia, é importante ter clareza de que todo transtorno traz prejuízo à vida do indivíduo, ao grupo do qual faz parte e à sociedade e por isso precisa ser tratado. Ainda que a adesão e a resposta clínica aos tratamentos para o TPAS sejam ruins, parece possível que intervenções precoces possam minimizar os danos à pessoa que sofre do transtorno e àqueles ao redor e mudar sua trajetória de vida.

Ouça no player acima o episódio na íntegra.


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.