Para responder a essa pergunta, o professor João Paulo Machado de Sousa, no Minuto Saúde Mental desta semana, ouviu o psicólogo judiciário Ildebrando Moraes de Souza. Segundo Ildebrando Souza, os psicopatas ou sociopatas são personagens que despertam medo e curiosidade em muita gente. Frequentemente destacados pela imprensa em casos criminais famosos ou em obras de ficção como filmes e séries de televisão, são apresentados como pessoas com características que combinam inteligência, charme pessoal, falta de empatia e a capacidade de estabelecer relações disfuncionais, cometer crimes ou causar prejuízo a outras pessoas sem sinais de remorso.
Ainda de acordo com Ildebrando Souza, os manuais que descrevem e classificam os transtornos mentais (DSM e CID) não utilizam mais as expressões psicopatia ou sociopatia para se referir a esse quadro (há controvérsia quanto a serem sinônimos e sobre possíveis diferenças entre um termo e outro, mas nenhum deles é considerado adequado em termos clínicos). “O descritor clínico atualizado é Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). Há estudos que consideram a psicopatia uma categoria à parte, que foge à classificação clínica ou que vai além dela (uma forma maligna de TPAS) e que se afilia puramente ao campo criminal, por isso não considerada nos manuais clínicos.”
Sobre a evolução, diz o psicólogo, o consenso atual é que esse tipo de transtorno é crônico, frequentemente com manifestações percebidas desde a infância (crueldade com animais ou pessoas, agressividade, oposição e quebra de regras como padrão), que são intensificadas na juventude e idade adulta e que podem apresentar declínio à medida que o indivíduo envelhece.
Pessoas com TPAS tendem a não procurar ajuda ou tratamento para sua condição e há razões importantes contribuindo para isso. Uma delas é que, assim como ocorre com outros transtornos de personalidade, o problema é melhor identificado por outras pessoas que convivem com a pessoa afetada e sofrem o incômodo causado por seu comportamento. Na verdade, mesmo que seja identificado pelo portador, o TPAS pode ser interpretado como vantajoso ou prazeroso e, por isso, o indivíduo não pretende curar-se.
Em sentido contrário à valorização dessa condição psíquica na mídia, é importante ter clareza de que todo transtorno traz prejuízo à vida do indivíduo, ao grupo do qual faz parte e à sociedade e por isso precisa ser tratado. Ainda que a adesão e a resposta clínica aos tratamentos para o TPAS sejam ruins, parece possível que intervenções precoces possam minimizar os danos à pessoa que sofre do transtorno e àqueles ao redor e mudar sua trajetória de vida.
Ouça no player acima o episódio na íntegra.
Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp
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