Eletrochoque é o nome mais popular de um tratamento conhecido como eletroconvulsoterapia (ou ECT) no meio médico. Essa modalidade de tratamento surgiu entre as décadas de 1930 e 1940 e passou muito tempo no baú obscuro das práticas antigas e questionáveis que já foram usadas para tentar tratar pessoas em sofrimento mental. Esse é o tema do Minuto Saúde Mental desta semana.
Segundo o professor João Paulo Machado de Sousa, a história conta que a ECT surgiu depois de funcionários de clínicas psiquiátricas relatarem que pacientes em surto psicótico que também sofriam de epilepsia pareciam ter melhora nos sintomas psicóticos após as convulsões causadas pela epilepsia.
Com isso, diz o professor, alguns médicos começaram a investigar métodos para causar convulsões controladas com medicamentos e, finalmente, com correntes elétricas aplicadas na cabeça. É claro que no início, com equipamentos ainda primitivos, o procedimento todo carecia de controle adequado e gerava convulsões com intensidades imprevistas que podiam fazer com que o paciente se machucasse durante o procedimento, causando até fraturas. “Além disso, os choques causavam confusão mental e desorientação por um certo tempo. Junto com o aspecto grotesco do procedimento, estes efeitos fizeram com que a técnica fosse vista como desumana e quase desaparecesse entre as décadas de 1960 e 1970.”
A partir dos anos 1980, no entanto, levando em conta os efeitos positivos observados no controle de sintomas, os pesquisadores começaram a buscar métodos seguros de fazer a ECT que causassem o mínimo de desconforto e efeitos colaterais para os pacientes. Assim, hoje a ECT é realizada em muitos serviços públicos e particulares ao redor do mundo, utilizando baixas correntes elétricas que podem ser aplicadas apenas de um ou dos dois lados da cabeça e sempre com o paciente anestesiado e acompanhado por uma equipe multidisciplinar.
A ECT é indicada para pacientes com depressão grave, transtorno bipolar e esquizofrenia, principalmente em quadros de catatonia que, em linguagem simples, são aqueles em que o paciente entra em um estado em que perde a interação com o mundo exterior de maneira que pode até ameaçar sua vida. Uma crítica importante feita contra a ECT é que seu mecanismo de ação continua desconhecido. Isso é verdade e muitos estudos continuam se dedicando a compreender como ela exerce seus efeitos no cérebro. Embora a medicina não tenha conseguido eliminar todos os efeitos colaterais
do tratamento e apesar da aversão que causa a muitas pessoas, a ECT é amplamente utilizada hoje em dia e tem o apoio de muitos pacientes que tiveram melhoras importantes em sua qualidade de vida graças a ela.