Minuto Saúde Mental #22: A esquizofrenia raramente aparece em idades avançadas

Algumas pessoas com idade avançada podem apresentar sintomas que se parecem superficialmente com a perda de contato com a realidade que acontece na esquizofrenia, mas, na verdade, as duas coisas tendem a ter diferenças importantes

 08/07/2021 - Publicado há 3 anos
Minuto Saúde Mental - USP
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Minuto Saúde Mental #22: A esquizofrenia raramente aparece em idades avançadas
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O podcast Minuto Saúde Mental desta semana responde à pergunta de ouvinte se a esquizofrenia aparece na velhice. Quando isso acontece, qual o motivo? Segundo o professor João Paulo Machado de Sousa, de forma bem objetiva, a esquizofrenia raramente aparece em idades avançadas. “Mas vamos tentar entender o que pode gerar esta confusão.”

A esquizofrenia é um transtorno que afeta todas as áreas da vida do paciente e, talvez o que seja mais importante aqui, o contato com a realidade. Algumas pessoas com idade avançada podem apresentar sintomas que se parecem superficialmente com a perda de contato com a realidade que acontece na esquizofrenia, mas, na verdade, as duas coisas tendem a ter diferenças importantes. 

Com o avanço da idade, existe um aumento da vulnerabilidade a quadros que chamamos de transtornos neurocognitivos, que antes eram conhecidos como demência. Aqui, uma curiosidade: a esquizofrenia também causa comprometimento cognitivo e, no início dos estudos sobre o tema, recebeu o nome de dementia praecox, do latim, para demência ou loucura precoce. Ou seja, a confusão do ouvinte é procedente e também acontecia lá atrás.

O nome cognição serve para descrever o conjunto de processos que nos ajudam a ter um contato funcional com a realidade. Esses processos incluem a atenção, a memória e a capacidade de planejar ações, entre outras coisas. A mais conhecida das doenças que atingem a cognição é a doença de Alzheimer, que faz com que o paciente tenha perda progressiva de funções importantes para que se oriente no dia a dia, principalmente a memória. Apesar de ser a mais conhecida, a doença de Alzheimer é apenas uma de várias outras condições que causam perdas cognitivas e que exigem tratamento especializado por neurologistas.

Quanto à esquizofrenia, o mais comum é que ela apareça no final da adolescência e início da vida adulta, embora haja casos mais raros que se iniciam antes ou depois disso. No início do transtorno, os prejuízos cognitivos não são muito evidentes e o que costuma chamar mais atenção e levar a pessoa a buscar tratamento são comportamentos que parecem estranhos, quando comparados ao comportamento habitual, tanto da própria pessoa no período anterior aos sintomas quanto das pessoas de sua comunidade. Infelizmente, é comum que o tratamento se inicie apenas depois da ocorrência de um episódio psicótico, que é quando a pessoa perde o contato com a realidade e apresenta crenças ou experiências sensoriais discrepantes. Esses sintomas são conhecidos respectivamente como delírios e alucinações.

Em resumo, é bastante incomum que a esquizofrenia comece em uma idade avançada e provavelmente houve aqui uma confusão com os quadros de transtorno neurocognitivo, esses sim, mais comuns entre idosos.


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

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