Territórios negros com características quilombolas são apresentados em exposição na USP

Mostra do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, que traz trajetórias marcantes de pessoas negras no interior paulista, prossegue até o dia 13 de maio, no Centro Cultural em São Carlos

 08/05/2023 - Publicado há 12 meses
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Exposição mostra trajetórias marcantes de pessoas negras no interior paulista. Mostra faz parte de projeto do IAU/USP que coletam registros de territórios negros urbanos, localizados no município de São Carlos - Foto: Divulgação

O Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, no campus de São Carlos, em parceria com o Centro Cultural da USP, desenvolveu a exposição Memórias Negras, com trajetórias marcantes de pessoas negras no interior paulista. A exposição fica aberta ao público até o dia 13 de maio, no Centro Cultural, em São Carlos, de segunda a sexta, das 8 às 12 horas e das 14 às 20 horas.

A mostra faz parte do projeto Memórias Negras, coordenado pela professora Eulalia Portela Negrelos no IAU, com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. Desde 2022, os colaboradores do projeto coletam registros de territórios negros urbanos, localizados no município de São Carlos, que se configuram historicamente como espaços que concentram memórias de resistência de habitantes negros em seu cotidiano, além de apresentar a segregação socioespacial vivenciada nessas áreas urbanas.

Joana D'Arc de Oliveira - Foto: IAU/USP

“Trata-se de territórios de resistências porque são lotes, com várias constituições, onde se encontram plantas de cura, rodas de samba, capoeira e diversas manifestações relacionadas ao movimento negro, algo bastante similar a um quilombo”, conta a professora Joana D’Arc de Oliveira, pesquisadora do projeto Patrimônio Cultural Afrobrasileiro: Casas e Quintais Negros Urbanos como Espaços de Resistências, no IAU.

Desde 2010, a partir de seu doutorado intitulado Da senzala para onde? Negros e negras no pós-abolição em São Carlos- SP, Joana e outros pesquisadores realizam mapeamentos de territórios de comunidades negras. A atividade de coleta de memórias já abrangeu as cidades de São Carlos, Araraquara, Piracicaba, Americana e Santa Bárbara do Oeste e pretende se estender cada vez mais. 

Ao Jornal da USP, a coordenadora do projeto, Eulalia Negrelos, ressalta a importância do mapeamento dos territórios negros urbanos. “Reconhecer e dar visibilidade a esses espaços de resistência nos amplia as possibilidades de inserção na sociedade enquanto universidade, curso de arquitetura e urbanismo e grupo de pesquisa. A exposição é mais do que um trabalho acadêmico mesmo se originando em seu domínio; é um trabalho de envolvimento concreto com os agentes que, a partir dos territórios negros, têm construído a cidade de São Carlos e podem se reconhecer por intermédio da valorização de suas memórias, expostas por eles de forma potente para sua visibilização”, complementa ela.

Abertura da exposição Memórias Negras com pesquisadores e os entrevistados - Fotos: Arquivo Pessoal

Protagonismo negro

A exposição visa a oferecer um espaço de protagonismo à comunidade negra de São Carlos, cidade do interior paulista marcada por comunidades com características quilombolas. O material disponível no Centro Cultural apresenta histórias de cinco pessoas negras da cidade, contando sobre sua infância, seu cotidiano, além de aspectos religiosos e do movimento negro. A produção é formada por fotografias, entrevistas, documentos e descrição dos espaços que as pessoas ocupavam.

Ao Jornal da USP, Joana explica que os locais mapeados contêm uma importância histórica, para além das experiências afetivas. “Os bairros contemplados na exposição concentraram uma população negra no pós-abolição que grafaram com seus saberes, culturas e resistências essas territorialidades.”

Os organizadores da exposição tiveram como parceiro o Centro Municipal de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos para a construção de um repertório mais amplo de possíveis entrevistados. Desde sua abertura, no dia 13 de abril, a exposição já recebeu quase 200 visitantes.  Até o mês de setembro, a exposição se encontra com agenda fechada, circulando por escolas estaduais da cidade de Ibaté, além da Diretoria de Ensino de São Carlos e do Centro Municipal de Cultura Afro-Brasileira Odette dos Santos.

Veja a seguir a apresentação da exposição, juntamente às histórias de Casimiro Paschoal Lumbandanga da Silva e Odila dos Santos Aguiar, contando suas memórias em São Carlos.

O desenvolvimento da exposição teve como base o Edital CCEx-IAU 01/2021, que selecionou projetos no campo temático de Redução das Desigualdades. O projeto Memórias Negras está vinculado ao Grupo de Pesquisa em História do Urbanismo, da Cidade e da Habitação (Urbis)

 “A visibilização dos territórios negros é um campo de pesquisas de grande importância e necessidade para dentro da Universidade. O Urbis busca valorizar objetos de pesquisa que explorem novas abordagens sobre problemas vinculados ao território e, nesse sentido, valorizar a problemática da produção do espaço a partir da contribuição secular das populações negras no Brasil tem um peso histórico e historiográfico, com o qual buscamos ampliar nossas investigações e contribuições a partir da Universidade”, afirma Eulalia.

Eulalia Portela Negrelos - Foto: Lattes

Serviço:

A exposição segue até 13 de maio, no Centro Cultural da USP, que fica na Av. Dr. Carlos Botelho, 1465, de segunda a sexta-feira, das 8 às 12 horas e das 14 às 20 horas.

Mais informações: comunicacao@iau.usp.br


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