Pela primeira vez em sua história, Esalq terá encontro para discutir a consciência negra

Organizado pelo Baobás, coletivo negro da Escola Superior de Agricultura da USP, estudantes desejam aproximar ativistas do movimento negro piracicabano da instituição; evento ocorre nesta quarta-feira, 30

 29/11/2022 - Publicado há 1 ano
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É a primeira vez que a Esalq realiza o Encontro para a Consciência Negra – Fotomontagem com imagens de Marcos Santos/USP Imagens e Freepik

 

Nesta quarta-feira, dia 30, acontecerá na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, o 1º Encontro para a Consciência Negra. Em formato de mesa-redonda, o evento contará com representantes do movimento negro da cidade, trazendo suas vivências e a importância de pautar a luta antirracista para além do dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra.

O evento é organizado pelo Coletivo Negro Baobás, da Esalq, e começará às 17h30, no Anfiteatro do Departamento de Genética, bloco central da escola. De acordo com os organizadores é preciso oferecer um espaço de visibilidade para as pessoas que estarão presentes. E para ampliar o acesso, o evento também será transmitido simultaneamente pelo Instagram do Coletivo Negro Baobás. Para acompanhar, não é preciso realizar inscrição previamente.

Foto: Coletivo Negro Baobás – ESALQ/Instagram

O momento não se restringe aos estudantes, mas também é aberto a todos os moradores da cidade. Para isso, os membros do coletivo conseguiram apoio da diretoria da instituição para que um ônibus faça o deslocamento das pessoas interessadas em participar desse dia, que é visto como um marco histórico.

“Pela primeira vez na história da Esalq, pessoas pretas vão conseguir verdadeiramente ocupar esse espaço, num anfiteatro, como protagonistas”, informa um dos integrantes do coletivo. O grupo também ressalta o quão necessário é que a pauta antirracista seja discutida na escola em eventos como esse, para que se possa superar a ideia de que a instituição apenas debate assuntos voltados às ciências ambientais.

O ônibus partirá às 17 horas da Casa de Cultura Hip-Hop, uma das organizações convidadas para se unir ao evento. Serão oferecidas 40 vagas por viagem. A Casa de Cultura Hip-Hop fica na R. Jaçanã Altair Pereira Guerrine, 188 – Higienópolis, Piracicaba.

 Fundada há 20 anos por Ubirajara Sabino, conhecido como Bira, a organização desempenha um papel social na cidade. Junto a ele, também estarão presentes outros convidados, em especial pessoas pretas da cidade. Além de discutirem temas como organizações populares e ferramentas de resistência cotidiana, o evento contará com a professora Lia Martins, pós-graduada em Educação e Relações Étnico-Raciais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que promoverá uma conversa sobre identidade e literatura negra. O encontro também contará com a participação da psicóloga Pâmela Cristina, pós-graduanda em Educação em Direitos Humanos pelo Instituto Federal de São Paulo no Campus Piracicaba, que irá desenvolver algumas reflexões sobre a saúde mental do povo preto. Ambas atuam no movimento negro piracicabano promovendo atividades que debatam a inclusão e história do negro no Brasil.

 A ideia é que cada participante fale um pouco do que está desenvolvendo na cidade. A partir disso, criar retratos eternizados na memória da instituição, que neste ano teve o ingresso de pouco mais de 7% de estudantes declarados negros, segundo relatório do perfil dos ingressantes 2022 da Esalq. Integrada à Universidade em 1934, a escola oferece sete cursos de graduação: Administração; Ciências Biológicas; Ciências dos Alimentos; Ciências Econômicas; Engenharia Agronômica; Engenharia Florestal; Gestão Ambiental. No entanto, nunca realizou um evento para discutir a consciência negra, em toda a sua história.

Stefany Correa – Foto: Arquivo pessoal

Para Stefany Correa, estudante do quarto ano de Engenharia Agronômica e uma das líderes do encontro, é preciso compreender o racismo institucional que existe, até mesmo na omissão de um posicionamento étnico-racial. Ela relata ao Jornal da USP que o campus no qual estuda não poderia ser o único que não teve nenhuma atividade voltada à consciência negra. “A gente tem que ocupar o espaço, fazendo o que a gente pode, com o que a gente tem. A Esalq precisa proporcionar um lugar de fala para o movimento negro e para a comunidade externa. E faremos isso em poucas horas. A luta antirracista deve ser contínua”, complementa a estudante, conhecida como a rapper ST3 da HB.

Junto dela, o rapper RAS 019 fará uma participação artística enaltecendo os saberes da negritude e desejando que a Universidade, de fato, se una à sociedade. Stefany é ex-moradora da periferia de Caucaia do Alto, em Cotia, município de São Paulo. Hoje residente da Casa do Estudante Universitário da Esalq, a estudante acredita que antes mesmo de formar profissionais, sobretudo, das ciências agrárias, é preciso abrir um espaço de escuta sobre o que é ser preto nas universidades.

“Acho que estamos majoritariamente formando pessoas para girar a máquina do agronegócio. Se um curso de engenharia agronômica não fala de segurança alimentar e agricultura familiar num país como o nosso, que dirá abordar a questão do racismo ambiental e da cor das pessoas que morrem no campo” – Stefany Correa

O coletivo negro e estudantil recebeu o apoio da Comissão de Inclusão e Pertencimento da Esalq. Para os integrantes da rede, a temática é um tanto pertinente e não deve se restringir somente aos cursos das ciências humanas. Também não apenas a um único dia do ano, o 20 de novembro. 

Coletivo Negro Baobás

Nomeados pela maior árvore do continente africano, o nome baobá quer dizer “pai de muitas sementes”. A espécie também ficou conhecida durante o período de escravidão africana como “árvore do esquecimento”. De acordo com as redes sociais do coletivo, havia um ritual comandado por escravizadores que consistia em apagar da memória a ancestralidade dessa população, fazendo-os andar em círculo ao redor da espécie.

Assim, surgiu a ideia do coletivo negro da Esalq: ressignificar o baobá e consolidar um movimento antirracista na escola. Organizado por estudantes de graduação e pós-graduação, o coletivo atua como uma rede de apoio para aqueles que ainda são minoria na unidade: a população negra. 

Com informações da Assessoria de Comunicação da Esalq
imprensa.esalq@usp.br

Saiba mais: @esalquspbaobas


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