Videoconcerto de fim de ano presta homenagem a Milton Nascimento

Com participação de grupos musicais da USP, produção será lançada neste sábado, dia 19, no Youtube

 17/12/2020 - Publicado há 3 anos
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Milton Nascimento é uma das poucas unanimidades na música do Brasil – por sua voz, suas composições e seu jeito de conduzir a carreira – que, além de cantar o amor, canta as mazelas da vida. Suas músicas que falam da necessidade de resistência, luta e esperança integram um vídeo produzido pela Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) e pelo Coral da USP (Coralusp), com participação da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e solos dos cantores Virgínia Rosa e Tiago Pinheiro. Pai Grande – Uma Homenagem a Milton Nascimento estreia neste sábado, dia 19 de dezembro, às 10 horas, no canal da USP no Youtube. Assista ao trailer do vídeo no link acima.

O vídeo é um projeto de fim de ano, originalmente previsto para ocorrer na Sala São Paulo, reunindo os principais organismos musicais da USP no campus de São Paulo, mas que sai agora em formato de videoconcerto em razão da pandemia do novo coronavírus. A concepção é dos maestros Gil Jardim, da Ocam, que também assina a direção musical e arranjos para coro e orquestra, e Eduardo Fernandes, do Coralusp, com produção e direção audiovisual da Tilt Rec e realização da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. Pai Grande – nome de uma canção que o compositor lançou há mais de 50 anos, que também faz menção à forma como seu amigo, parceiro e percussionista Nana Vasconcelos (1944/2016) carinhosamente o chamava – tem duração de oito minutos e traz trechos de quatro canções de Milton Nascimento: Milagre dos PeixesA Sede do PeixeCredo Bola de Meia, Bola de Gude.

O maestro Eduardo Fernandes, regente do Coral da USP – Foto: Reprodução/Youtube – Canal Coral Unifesp

Segundo o regente Eduardo Fernandes, são músicas que tratam de solidariedade, amizade, ingenuidade e de raça, temas tão contemporâneos em virtude da pandemia de covid-19. “Estamos vivendo um momento de pandemia, em que a solidariedade é muito importante, e a questão racial se tornou presente por conta dos assassinatos que aconteceram nos Estados Unidos e também no Brasil”, observa, lembrando que o compositor é um negro que fala sobre a questão da raça, mas sem ser panfletário. O regente critica a exclusão de Milton Nascimento da lista de personalidades negras da Fundação Palmares, neste mês: “Um músico reconhecido no exterior, que ganhou título de Doutor Honoris Causa em música da Berklee College of Music, uma das mais prestigiosas do mundo, e que a Fundação Palmares não reconhece”. Além disso, diz Fernandes, trata-se de um defensor dos povos indígenas e da natureza.

Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de outubro de 1942, mas tem seu nome associado a Minas Gerais, lugar onde cresceu e começou sua carreira, nos anos 60. Foi na capital mineira, Belo Horizonte, que conheceu vários músicos e poetas, com os quais formou o Clube da Esquina, entre eles Beto Guedes, Fernando Brant e Lô Borges. Destacou-se nos primeiros festivais de música no Rio de Janeiro e em São Paulo e se tornou um dos maiores nomes da música popular brasileira, com reconhecida carreira internacional e cinco prêmios Grammy. Como lembra Fernandes, nessas quase seis décadas de carreira, Milton Nascimento fez de sua arte um manifesto estético nacional. “Além de ser uma referência, é um compositor que tem uma obra personalíssima”, analisa. E completa: “A música do Milton é muito pessoal, tem uma ligação forte com Minas Gerais, mas sem ser folclórica. É uma música urbana, que mistura jazz, rock e toada mineira”.

O processo de produção

Eduardo Fernandes destaca a união dos três organismos musicais da USP – Osusp, Ocam e Coralusp – e reconhece que, para produzir um vídeo durante uma pandemia que exige o isolamento social, não foi nada fácil gravar e editar as imagens. “Todos gravaram vídeos de suas casas, pelo celular, cada naipe de voz, cada instrumento”, informa o regente. Do Coralusp, conta, participam 45 cantores, mas somente oito foram, individualmente, a um estúdio. O mesmo aconteceu com as orquestras: alguns músicos de cada instrumento representaram o conjunto.

Em relação às imagens, o espectador vai assistir tanto às gravações dos músicos e instrumentistas como paisagens de Minas Gerais, da cidade de Três Pontas, em que Milton Nascimento cresceu, das matas, das pessoas, das crianças, todas fazendo referência às músicas. Além disso, como adianta Fernandes, na introdução do videoconcerto, o maestro Gil Jardim inicia com uma das Bachianas de Villa-Lobos, que aos poucos vai dando lugar para a música de Milton Nascimento, resgatando a forte brasilidade de um grande compositor erudito em perfeito diálogo com a música popular.

“Mesmo com todas as dificuldades, estamos felizes em apresentar esse trabalho que é de um compositor brasileiro, negro, vivo e com uma mensagem tão importante”, afirma Fernandes, lembrando que a música de Milton Nascimento sempre traz força e esperança. “É como uma luz no fim do túnel, um farol.”

Mensagem de fim de ano

Tenho em mim todas as cores

Quando falo coisas reais

E no silêncio dessa natureza

Eu que amo meus amigos

Livre, quero poder dizer

Eu tenho esses peixes e dou de coração

Esse é um trecho de Milagre dos Peixes, música que integra Pai Grande – Uma Homenagem a Milton Nascimento e nome também de um álbum lançado em 1973, eleito pela versão brasileira da revista Rolling Stone como o 63º melhor disco brasileiro de todos os tempos, gravado ao vivo no ano seguinte, com acompanhamento de orquestra no Teatro Municipal de São Paulo. Nela, o compositor fala sobre questões como raça e solidariedade, assuntos que ecoam em seus versos com liberdade, apesar da censura imposta pelo regime militar na época.

O compositor também acredita que a esperança pode trazer tempos melhores e mais suaves, como diz em Credo: “Caminhando pelas ruas de nossa cidade, acendendo a esperança e apagando a escuridão”. Ou que podemos nos lembrar de que “Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração, toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão”, como na letra de Bola de Meia, Bola de Gude. Ou ainda que devemos ter calma para o que não tem solução, como sugere sua música A Sede do Peixe: “Para o que não tem mais razão/ A calma do louco ensinou/ A dizer nada/ Para o que não tem mais nada/ A calma do louco ensinou/ A dizer razão”.

O vídeo-concerto Pai Grande – Uma Homenagem a Milton Nascimento será lançado neste sábado, dia 19 de dezembro, às 10 horas, no canal da USP no Youtube. 

Vote na Orquestra de Câmara da USP

A Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP foi selecionada como finalista do Grande Prêmio Concerto 2020 Reinvenção na Pandemia. Os vencedores serão escolhidos pelo público por meio de votação virtual até esta sexta-feira, dia 18. Para votar é só entrar neste link.

Com periodicidade anual, o Prêmio Concerto destaca as melhores produções da música de concerto. Neste ano, com os cancelamentos das temporadas presenciais, um júri formado por críticos e especialistas selecionou propostas que reinventaram a maneira de se pensar a música na pandemia. A Ocam foi escolhida por dois vídeos, produzidos neste ano, que utilizam o poder da arte para refletir sobre questões atuais. Esses vídeos são: Espero que Nomes Consigam Tocar! e Temos por Quem Lutar!. Assista a essas duas produções nos links acima e abaixo.

Também concorrem ao Prêmio Concerto o sopranista Bruno de Sá, formado pelo Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o regente José Soares, aluno de Composição no mesmo departamento – ambos na categoria Jovem Talento -, e a nova edição de Ensaio sobre a Música Brasileira, de Mário de Andrade, organizada pela professora Flavia Toni, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, e lançada pela Editora da USP (Edusp), na categoria CD/DVD/Livro.


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