Site mostra vínculos culturais entre países banhados pelo Atlântico

Lançada em abril, plataforma “Transatlantic Cultures” é resultado de parceria entre a USP e universidades francesas

 02/05/2022 - Publicado há 2 anos
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Logo da plataforma Transatlantic Cultures – Foto: Reprodução

 

Uma parceria entre a USP e as universidades francesas Paris-Saclay e Sorbonne Nouvelle deu origem à plataforma digital Transatlantic Cultures (Culturas Transatlânticas), lançada no dia 25 de abril. O projeto, financiado por um programa de cooperação internacional da Agence Nationale de la Recherche (ANR) e da Fundação de Amparo ao Pesquisador do Estado de São Paulo (Fapesp), busca evidenciar as fortes relações de troca cultural entre os países banhados pelo Oceano Atlântico — uma consequência do grande tráfego marítimo na região em séculos passados.

A professora Gabriela Pellegrino – Foto: IEA-USP

A professora Gabriela Pellegrino, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, coordenadora do projeto no Brasil, conta que, apesar do lançamento recente, a iniciativa surgiu em 2016. Após alguns anos de desenvolvimento e pesquisa, em 2020, o acesso a uma versão provisória do site foi liberado ao público. “Agora, a plataforma está completa, mas vai continuar sendo alimentada com conteúdo”, explica. O projeto conta com uma equipe pluridisciplinar responsável pela produção de artigos e ensaios analíticos sobre as mais diversas formas de expressão dos vínculos entre a África, a Europa e as Américas. As artes cênicas, a música, o cinema, os esportes e a educação nos países de tais continentes marcam presença entre as temáticas exploradas no site, que também abrange itens culturais de maior subjetividade — a memória, por exemplo.

Ao todo, 100 autores participam do projeto, formando um grupo diversificado de professores, doutores e pesquisadores. Embora uma grande parcela dos colaboradores pertença à equipe franco-brasileiro que desenvolveu a plataforma, a iniciativa também reúne especialistas vindos da Suíça, Bélgica, Inglaterra, Áustria, Espanha, Alemanha, Turquia, Estados Unidos, Colômbia, Argentina e Senegal. “É uma rede muito grande, e que está se ampliando gradativamente”, adiciona Gabriela.

“A organização do site foi muito discutida pela equipe editorial — pensávamos em como transformar essas diversas narrativas transatlânticas em conteúdos adequados ao suporte digital. Nós concebemos a estrutura da plataforma distribuindo os textos em sessões temáticas e permitindo a navegação através de certas chaves de busca”, explica a professora.

É possível visualizar o conteúdo do site a partir de três pontos de vista distintos: cada aba da plataforma apresenta critérios próprios para a disposição dos artigos. A primeira, Temas, agrupa os textos de acordo com os objetos culturais que analisam. Na sequência, a aba Espaços divide os territórios transatlânticos em cinco zonas – África, América do Sul, América do Norte, Caribe e Europa. Textos relacionados a áreas oceânicas também são contemplados pela divisão, que inclui o Atlântico Sul e Atlântico Norte.

Mapa disponível na aba Espaços retrata sete zonas de alcance do Oceano Atlântico. Os números representam a quantidade de textos relacionados à respectiva área – Foto: Reprodução/Transatlantic Cultures

 

A terceira e última aba, intitulada Períodos, conta com uma linha do tempo interativa: ao passar o cursor do mouse sobre cada texto, um traço azul surge no gráfico, o que permite ao leitor constatar o período a que o conteúdo se refere. Ainda que alguns artigos pontuem acontecimentos datados até mesmo do século 16, época da chegada dos colonizadores portugueses no Brasil, Gabriela lembra que o foco do projeto está na análise dos fenômenos transatlânticos no decorrer dos últimos dois séculos. Para fins de organização, a linha do tempo foi subdividida em quatro grandes períodos — Revoluções Atlânticas e Colonialismo, Um Atlântico de Vapor, A Consolidação das Culturas de Massa e O Espaço Atlântico na Globalização.

O site também conta com palavras-chave, que auxiliam o leitor a encontrar artigos relacionados a seus assuntos de interesse. “Criamos metadados que favorecem um deslizamento entre os textos alinhados na plataforma”, diz a professora. A navegação, no entanto, é limitada pela barreira da linguagem: cada texto é publicado na língua original de seu autor e traduzido apenas para o inglês. “Na medida em que os financiamentos permitirem, novas traduções serão realizadas para disponibilizar os conteúdos em espanhol, francês e português e, assim, oferecer referências compartilhadas para estudantes e o grande público dos diversos países cobertos pelo projeto”, indica uma nota postada na plataforma, que atualmente conta com uma equipe de cinco tradutores.

Gabriela Pellegrino ainda destaca que o núcleo francês do projeto — coordenado por Anaïs Fléchet, professora da Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines, e Olivier Compagnon, que leciona na Université Sorbonne Nouvelle — realiza eventos periódicos para debater os temas presentes na plataforma. “Temos um blog na França (https://tracs.hypotheses.org/), e a cada dois meses marcamos um seminário.” No Brasil, congressos e seminários com os autores também ocorrem, de forma esporádica. “Esses encontros estreitam as relações entre as universidades, os pesquisadores e o público”, finaliza Gabriela. 

A cerimônia de inauguração da plataforma Transatlantic Cultures, no dia 25 de abril, está disponível no canal da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP no Youtube.


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