Companhia Empório de Teatro Sortido comemora 10 anos no Tusp

Mostra gratuita começa na quinta-feira, dia 27 de janeiro, e traz espetáculos, leituras encenadas e encontros

 21/01/2022 - Publicado há 2 anos
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Chorume, vencedora do Prêmio Aplauso Brasil, reflete sobre um momento histórico onde não se pode mais diferenciar o que é construção daquilo que é ruína – Foto: Reprodução

 

Fundada em 2010 por Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, a companhia Empório de Teatro Sortido tem sua trajetória dez montagens, com várias premiações importantes do País, entre elas, os prêmios APCA, Shell, APTR e Aplauso Brasil e outro grande número de indicações. Para comemorar os seus 10 anos de existência – completados em 2020 durante a pandemia de covid-19 – ocupa o Tusp, a partir de quinta, dia 27 de janeiro, até o dia 13 de março, com a Mostra Empório de Teatro Sortido 10 Anos. Serão apresentados espetáculos do repertório, em formato convencional e em leituras encenadas, seguidos de debates, além de uma aula-espetáculo de encerramento a partir de um texto inédito dos diretores. Tudo com entrada gratuita.

Não tem nada, indicado ao Prêmio Shell, traz em cena quatro intérpretes que se desdobram em dezenas de personagens para investigar assuntos dos tempos atuais – Foto: Reprodução

Atuando sem um elenco fixo, o grupo sempre acolheu parceiros constantes e colaboradores diversos, trabalhando com artistas de alguns dos mais importantes coletivos teatrais da cidade, como a Cia Hiato, Velha Cia, Cia da Mentira, Cia Delas, 28 Patas Furiosas, Núcleo Experimental, Cia Simples e Grupo Pândega. “A companhia foi criada por nós dois, eu e Rafael, e era, desde sua fundação, uma companhia de dois autores/encenadores, sem um elenco fixo, mas com um desejo claro de partida de trabalhar com colaboradores constantes (atores, atrizes, cenógrafos, iluminadores, figurinistas, etc.), que têm nos acompanhado ao longo de todo esse tempo. Um outro parâmetro importante era que a companhia tinha dois vetores principais: de um lado a produção de dramaturgia original e, de outro, um desejo de revisitar clássicos, reaproximá-los de novas plateias”, afirma Calderoni. Segundo ele, ao longo desses dez anos de trajetória, “tivemos a felicidade e a sorte de contar com boas repercussões junto ao público e de termos ganhado uma quantidade significativa de prêmios e indicações a troféus prestigiosos”.

Fazer uma grande ocupação em um teatro da cidade já era um desejo antigo, como lembra Calderoni, e com a efeméride dos dez anos veio a oportunidade. No Tusp, serão apresentados quatros textos assinados por Calderoni, além das leituras, que “salvo uma exceção aqui e ali, serão feitas pelos elencos originais das montagens”, ressalta o diretor. Três montagens fazem parte da trilogia Placas Tectônicas: Não nem nada, Ãrrã e Chorume. “São meus primeiros textos para teatro, e todos pulsam uma urgência imensa em fotografar o espírito do tempo. São interpretados por atores-jogadores, numa atmosfera meio frenética de gincana cênica, e uma lógica polifônica e fragmentada, onde a diversidade vai conformando a unidade”.

Ãrrã, espetáculo vencedor do Prêmio Shell de Melhor Autor em 2015, é encenado pelos premiados atores Luciana Paes e Thiago Amaral – Foto: Reprodução

Abrindo a mostra no Tusp, nesta quinta, Ãrrã, espetáculo vencedor do Prêmio Shell de Melhor Autor em 2015, é encenado pelos premiados atores Luciana Paes e Thiago Amaral; Não tem nada, indicada ao Prêmio Shell SP 2014 de Melhor Autor (Calderoni) e Melhor Atriz (Renata Gaspar), traz em cena quatro intérpretes que se desdobram em dezenas de personagens para investigar assuntos dos tempos atuais, como a dificuldade de comunicação diante da profusão de estímulos, o bombardeamento de notícias, a dinâmica de funcionamento das redes sociais, o mundo das subcelebridades e a própria noção de percepção do tempo na contemporaneidade; e Chorume, vencedora do Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Iluminação para Wagner Antônio, como o próprio título já delineia, traz todo tipo de matéria-prima imprópria para o palco, como o rótulo de uma água mineral, o folheto de um empreendimento imobiliário, frases ditas em conversas em uma praça e até dedicatórias encontradas em livros empoeirados nos sebo, em que seis intérpretes buscam refletir sobre um momento histórico onde não se pode mais diferenciar o que é construção daquilo que é ruína.

Os arqueólogos, vencedor do Prêmio APCA de Melhor Autor, é um texto intimista que descreve, com rigor e frieza, cenas do cotidiano – Foto: Reprodução

O quarto espetáculo da mostra, Os arqueólogos, como explica Calderoni, “é um texto para dois atores, um tanto mais intimista de certo modo, que olha com uma lente de aumento para essa noção da grandeza do ínfimo, de como o ordinário se converte em extraordinário dependendo da vitalidade com que se observa o que nos circunda”. O espetáculo foi vencedor do Prêmio APCA de Melhor Autor, além de ter conseguido indicações da APCA para Melhor Espetáculo e do Prêmio Shell de Melhor Autor. No enredo, dois narradores com linguagem que parodia os jargões de modalidades esportivas (como futebol, boxe e automobilismo) – descrevem, com rigor e frieza, cenas corriqueiras que se passam na praça de uma grande cidade: um pai que ensina ao filho como fotografar com uma câmera analógica, um casal que discute na calçada, uma garota que conta quanto tempo cada pessoa demora para desfazer o sorriso do rosto depois que se despede de um conhecido.

Além disso, a ocupação no Tusp contempla outros cinco espetáculos, que serão apresentados como leituras encenadas: Jacqueline, de Rafael Gomes; Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams; Gotas d’água sobre pedras Escaldantes, de Rainer Werner Fassbinder; O convidado surpresa, adaptação de Rafael Gomes para o romance de Gregoire Boilleur e Cambaio [a seco], de Adriana Falcão e João Falcão, com músicas de Chico Buarque e Edu Lobo. Por fim, no último sábado da ocupação, será apresentado Egotripas, misto de aula-espetáculo e experimento cênico, criado e protagonizado por Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, que repassa, num formato de documentário cênico mas com liberdade ficcional, os dez anos de trajetória da companhia. “Como a ideia tem um caráter memorialístico e de antologia, achamos que seria perfeita para essa mostra que radiografa nossos primeiros dez anos de atividade”.

Mostra Empório de Teatro Sortido 10 Anos faz temporada de 27 de janeiro a 13 de março, com apresentações de quarta a sábado, às 21 horas, e domingos, às 19 horas, no Tusp (rua Maria Antonia, 294, Consolação). Mais informações pelos telefones (11) 3123-5223/5233 ou no site da companhia. Gratuito, com ingressos distribuídos uma hora antes do início dos espetáculos. Lotação: 70 lugares.

 


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