Neste sábado e domingo, dias 5 e 6, chega aos palcos do Teatro da USP (Tusp) a peça Desterrados – Ur Ex Des Machine. Produzida em comemoração aos 20 anos da Companhia Antropofágica, em parceria com a Cooperativa Paulista de Teatro e o Tusp, a obra é resultado da pesquisa de décadas sobre o artista polonês Tadeusz Kantor (1915-1990).
A peça faz parte da Okupação Antropofágica, ciclo de espetáculos com inspiração em Kantor, que contou também com apresentações da Trylogia Terror e Miséria no Novo Mundo e uma oficina com a atriz e diretora polonesa Ludmila Ryba. Além disso, serão apresentados ainda dois ensaios abertos ao público.
O diretor e cenógrafo Thiago Reis Vasconcelos, que também é fundador e dirige a Companhia Antropofágica, conta que o espetáculo não possui um fio narrativo e, inclusive, há pouca presença de texto. “Não tem uma história que atravesse a peça toda, na visão de um ou mais sujeitos. Não tem fábula. São estruturas sobre o desterro”, comenta.
Vasconcelos explica que a peça se distancia de uma estrutura comum de enredo, visto que este, normalmente, está ligado a um personagem condutor da história. “Em Desterrados, não. A gente tem uma estrutura que dialoga mais com essa probabilidade do desterro na sua materialização de espaços. Quem conduz a peça é um pensamento sobre o espaço com todas as suas contradições que ele pode ter”, expõe.
Um grande nome sobre o conhecimento da espacialidade no teatro foi, justamente, Tadeusz Kantor, a principal inspiração não apenas para Desterrados, mas para toda a Okupação Antropofágica. Nascido na Polônia, o artista cumpriu papel nas artes e, principalmente, no teatro.
Seu trabalho na quinta arte o tornou conhecido sobretudo por suas contribuições interdisciplinares na encenação, performance, pintura, cenografia e sua ênfase nos objetos, no espaço e no happening – forma de arte que conta com a participação do público e rejeita convenções artísticas.
“Para Kantor, todos os elementos teatrais são fundamentais e têm a sua legitimidade. Uma das razões da arte é tentar alcançar o público através dos seus sentidos”, complementa Vasconcelos. “O teatro que fazemos – e que, principalmente, o Kantor faz – não é figurar uma situação que existe no real e criar uma cena para representar o que está ali; o próprio teatro é o real.”
Ou seja, o teatro não é um espelho da realidade, mas sim uma realidade própria que se estabelece. “Ele é um artista que não deixou metodologias de atuação, nunca perseguiu essa ideia do método, mas nos deixou como experiência práticas kantorianas”, acrescenta.
A relação entre Kantor e a Companhia Antropofágica surgiu há cerca de 15 anos, relembra o fundador. Já Desterrados nasceu em 2015, quando a exposição Máquina Tadeusz Kantor ficou em cartaz no Sesc Consolação em comemoração ao centenário do artista polonês. Na época, a companhia estava trabalhando em parceria com Ludmila Ryba, e com Michal Kobialka, polonês e pesquisador da obra de Kantor.
“Nesse período da criação de Desterrados – fora o trabalho da Antropogágica em cima das temáticas que aflige o grupo –, a gente estudava tanto teoricamente, com Kobialka, os procedimentos de pensamento de um teatro kantoriano, quanto práticas e exercícios diários kantorianos”, conta o diretor.
Um dos grandes desafios para o desenvolvimento da peça, segundo Vasconcelos, foi estabelecer um diálogo entre o trabalhado até então realizado pela Antropofágica e o pensamento do artista polonês. O processo de Desterrados não envolvia uma mera adaptação de ideias pré-estabelecidas, mas sim o exercício de refletir, juntamente com a equipe. “As contradições e as tensões que a gente vê presentes no teatro do Kantor eram inspirações para observarmos as próprias contradições da realidade brasileira e do mundo que, ali em 2015, estávamos vivendo”, expõe.
A atriz Renata Adrianna comenta a sensação que foi estar, com a equipe, imersa no centenário de Kantor. “A relação com o objeto, com a espacialidade e com os coros, muito presente no teatro de Kantor, fez com que a gente aprimorasse o nosso trabalho. Mas a peça também traz muito da nossa linguagem, da carnavalização, das cores, a parte musical – que também se alimenta do universo da Polônia”, destaca a artista.
Opus Kantorianas Nº 1
Encerrando o ciclo de apresentações Okupação Antropofágica, nos dias 12 e 13 de agosto a Companhia Antropofágica promoverá dois ensaios abertos ao público. Opus Kantorianas Nº 1 (nome provisório) serão dirigidos por Ludmila Ryba. Integrante do Cricot 2, companhia de teatro experimental polonesa fundada por Tadeusz Kantor em 1955, Ryba incorpora suas próprias práticas em sua direção.
Os ensaios estão sendo desenvolvidos a partir de uma série de textos, poesias e práticas cotidianas de sala de ensaio, desenvolvida a partir da criação da atuação do jogo com os objetos, explica Thiagos Reis Vasconcelos. “Nós temos feito ensaios regulares e, praticando com a Ludmila, isso resultará em um espetáculo onde teremos menos práticas da Antropofágica e mais práticas que ela nos tem trazido”, detalha o diretor.
Os ensaios abertos Opus Kantorianas Nº1 acontecem nos dias 12 e 13 de agosto, às 20 horas e às 19 horas, respectivamente, no Teatro da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, em São Paulo). Os ingressos a R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada) podem ser adquiridos virtualmente e na bilheteria do TUSP uma hora antes da sessão.
O espetáculo Desterrados – Ur Ex Des Machine acontece neste sábado e domingo, dias 5 e 6 de agosto, às 20 horas e às 19 horas, respectivamente, no Teatro da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, São Paulo). Os ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada) podem ser adquiridos virtualmente e na bilheteria do TUSP uma hora antes da sessão. Classificação indicativa: 18 anos. 96 lugares. Mais informações estão disponíveis no site do Teatro da USP.
*Sob supervisão de Roberto C. G. Castro