População pobre é a mais atingida pelo baixo investimento em mobilidade urbana

Fábio Kon comenta que a população de baixa renda fica longe dos empregos, dos centros das cidades e é obrigada a gastar horas em transporte público

 15/07/2020 - Publicado há 4 anos
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A mobilidade urbana é um desafio para as grandes cidades. Segundo especialista, a falta de investimentos em transportes alternativos prejudica, principalmente, as camadas mais pobres da sociedade, que sofrem a consequência de perder horas em transportes públicos com superlotação no deslocamento de casa ao trabalho.

Foi pensando em propiciar a criação de políticas públicas e ações voltadas à melhoria da mobilidade urbana que o grupo de pesquisa coordenado pelo professor Fábio Kon, do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP, desenvolveu um software utilizando uma técnica matemática chamada bundling, que possibilita agrupar grandes quantidades de dados e, nesse caso, facilita a visualização dos padrões de mobilidade nas cidades e “oferecer ferramentas para urbanistas e engenheiros de transportes proporem políticas públicas”, diz Kon, que complementa: “Trabalhamos há alguns anos com dados das bicicletas na cidade de São Paulo, inicialmente com dados dos dois principais sistemas dessas bicicletas: as compartilhadas, utilizando docas, e as bicicletas livres, sem docas. A gente tinha dados de milhões de viagens e desenvolvemos um software, uma tecnologia, que permite visualizar os principais fluxos de transporte”.

Mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Foto: Fabio Arantes/Secom via Fotos Públicas

Para o professor, mobilidade urbana é um dos principais problemas nas grandes cidades e nos países em desenvolvimento e impacta, sobretudo, a população de baixa renda, já que a camada mais privilegiada mora próximo ou pode ir de transporte individual para o trabalho e usufruir de boa estrutura viária: “Carro é o pior transporte que se possa imaginar, porque ocupa mais espaço, gasta mais combustível, gera mais poluição no ar e sonora, então qualquer sistema baseado em transporte individual vai gerar uma cidade congestionada e poluída, o que não é o que a gente gostaria. A população mais pobre acaba sendo jogada para a periferia, áreas distantes de onde estão os empregos, portanto, essa população acaba tendo que gastar muito tempo no transporte, entre uma e quatro horas por dia para sair de casa, ir para o trabalho e voltar para casa, o que acaba sendo um grande imposto cobrado na população de baixa renda”.

Kon acredita que mobilidade deveria ser prioridade na gestão pública e lembra a importância de investimento em transportes alternativos: “Mobilidade urbana é algo que, se melhorar, a gente melhora a qualidade de vida na cidade para uma quantidade enorme de pessoas, então deveria ser prioridade de qualquer governo sério. Nas últimas décadas, os governos têm investido bastante no transporte individual, o que vai na contramão do que a gente deveria fazer, então esperamos que ocorra mudança de mentalidade com mais investimentos em bicicletas, na infraestrutura cicloviária, com mudanças que facilitem a vida, aumentem a velocidade do uso dos ônibus, que em São Paulo é um dos principais modos de transporte público, e que dificultem o uso de carros. Se a gente quer uma cidade moderna, precisa diminuir o uso de carros e facilitar o uso de transporte público e de bicicletas”.

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