Uso complementar de gás reduziria vulnerabilidade energética em SP

Conclusão faz parte de mapa das regiões residenciais paulistanas elaborado por pesquisadores

 08/05/2017 - Publicado há 7 anos
Linhas de transmissão para transporte de energia elétrica em grandes torres. Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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A vulnerabilidade energética das residências paulistanas diminuiria em 11% caso fosse adotado o uso complementar de duas fontes de energia – o gás e a eletricidade. Foi o que revelou um mapa inédito elaborado por pesquisadores do RCGI (Fapesp-Shell Research Centre for Gas Innovation – Centro de Pesquisa em Inovação em Gás), sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP.

O documento Mapa de Vulnerabilidade Energética para Áreas Residenciais de São Paulo mostra as áreas mais ou menos propensas a sofrerem cortes no fornecimento de energia elétrica, categorizando-as em quatro classes com relação à vulnerabilidade: muito alta, alta, média e baixa. Paralelamente, compararam os resultados, simulando um cenário em que as residências seriam servidas por gás e eletricidade em igual proporção.

“Ao projetar esse cenário concluímos que o uso de gás e eletricidade, de forma complementar, diminuiria em 11% a vulnerabilidade energética das residências paulistanas”, afirma o coordenador da pesquisa, o geógrafo Luís Antonio Bittar Venturi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. As áreas de vulnerabilidade muito alta, que no mapa representam 20,4% de todas as áreas residenciais mapeadas, no cenário de uso equitativo entre eletricidade e gás diminuem para 7%. Do mesmo modo, as áreas de vulnerabilidade alta diminuem de 37% para 28,5%. Por outro lado, áreas de vulnerabilidade média aumentam de 31,9% para 39,4% e, finalmente, as áreas de vulnerabilidade baixa aumentam de 10,7% para 25,1%. “O aumento do uso do gás tornaria as residências muito menos vulneráveis energeticamente, pois, havendo complementaridade entre duas fontes, na falta de uma haveria outra que asseguraria, ao menos, metade das funções domésticas que necessitam de energia.”

Ricos e pobres

De acordo com Venturi, na situação atual é possível identificar uma tendência de aumento da vulnerabilidade a partir do centro para o centro expandido, e daí para as regiões periféricas. Outra conclusão feita foi que a variação da vulnerabilidade não se relaciona diretamente com o nível socioeconômico dos distritos (maior ou menor demanda de energia), podendo haver áreas de alta ou muito alta vulnerabilidade tanto em distritos mais ricos (Alto de Pinheiros, Campo Belo e Morumbi) como naqueles de padrão socioeconômico mais baixo (São Mateus e Ermelino Matarazzo).

“Escolhemos cinco indicadores para mapear a vulnerabilidade: o tamanho da área abastecida por uma única subestação; a existência de fonte alternativa ou complementar de energia; a distância do distrito das vias arteriais; sua proximidade de áreas consideradas prioritárias no fornecimento de energia, como hospitais; e a densidade de árvores nas vias arteriais locais, já que nas áreas residenciais a distribuição de energia é feita predominantemente por rede aérea e, portanto, vulnerável a quedas de arvores.”

Uso de gás e eletricidade, de forma complementar, diminuiria em 11% a vulnerabilidade energética das residências paulistanas – Foto: Divulgação/Secretaria de Energia e Mineração/Governo do Estado de São Paulo

O cruzamento dos indicadores resultou na construção do mapa e na definição das quatro classes de vulnerabilidades citadas. “No caso do Alto de Pinheiros, Campo Belo e Morumbi, o indicador referente à densidade de árvores deve ter sido mais determinante que os outros, pois estas áreas costumam ser mais arborizadas. Outra conclusão parcial emerge ao observarmos bairros contíguos e urbanisticamente semelhantes, mas com níveis de vulnerabilidade distintos, como o Campo Limpo e o Capão Redondo. O primeiro é bem menos vulnerável que o segundo. Neste caso, o primeiro indicador foi determinante, já que Capão Redondo está inserido em uma subestação que abastece uma grande área, incluindo outros municípios como Embu das Artes. Daí sua maior vulnerabilidade.”

Por outro lado, a maior proximidade a diversos hospitais na região da Avenida Paulista pode ajudar a explicar a baixa vulnerabilidade das áreas adjacentes, abrangendo partes da Bela Vista, Jd. Paulista e Vila Mariana, além do fato de estas áreas serem bem servidas de vias arteriais.

Metodologia replicável

Outros indicadores poderão ser incluídos na medida em que a equipe obtiver dados mais precisos sobre eles. “O mapa foi criado em plataforma eletrônica ArcGis, que é dinâmico e pode ser alimentado com dados novos. Para nós, mais importante do que ele é a metodologia que a equipe moldou para a tarefa. Ela pode ser aplicada em qualquer cidade do mundo: basta que os pesquisadores escolham os indicadores que melhor se adaptem ao contexto estudado.”

Além disso, ele servirá de base para um estudo mais avançado que avaliará a viabilidade técnica de complementar parcialmente a energia elétrica com o gás natural. Segundo Venturi, pelo menos 50% do consumo doméstico de energia em São Paulo poderia ser convertido para gás, considerando que a cidade tem uma boa infraestrutura de distribuição. “Defendemos que a energia elétrica fique restrita à utilização em que ela é absolutamente necessária, como nos eletroeletrônicos e nos sistemas de comunicação.”

Sobre o RCGI

O RCGI – Fapesp-Shell Research Centre for Gas Innovation (Centro de Pesquisa em Inovação em Gás) realiza pesquisas de classe mundial para desenvolver produtos e processos inovadores, e estudos que viabilizem a expansão do uso do gás no Brasil. Sediado na Poli, o RCGI é financiado com recursos da Fapesp e da BG Brasil – subsidiária do Grupo Shell. O centro reúne mais de 150 pesquisadores de diversas instituições brasileiras, que atuam em 29 projetos de pesquisa. Saiba mais acessando o site do RCGI.

Angela Trabbold / Acadêmica Agência de Comunicação


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