Biocarvão pode ajudar na recuperação do solo

Carlos Pellegrino Cerri explica que o biochar pode beneficiar solo desmatado para evitar queimadas em novas áreas

 27/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 03/09/2019 as 15:03
Por
Logo da Rádio USP

Estudos realizados na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP revelam como realizar a mitigação de impactos ambientais, como emissão de gases de efeito estufa (GEE), utilizando o biochar ou biocarvão, que é caracterizado como um produto do processo de queima com material orgânico. O biocarvão tem potencial para contribuir para um manejo do solo mais sustentável. Ainda não existe uma produção do biochar em nível comercial no País. O professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq, comenta ao Jornal da USP no Ar sobre as vantagens e possibilidades de aplicação do biocarvão.

Há tipos diferentes de materiais orgânicos, como aquele oriundo da própria decomposição feita por organismos presentes no solo. “Esse material vegetal, ou animal, é transformado em coloides do solo – partículas bem ‘pequenininhas’ –, que interagem com a parte inorgânica”, explica Pellegrino, e continua: “Esse material, que chamamos de húmus, fica lá por muito tempo e apresenta uma série de características benéficas que podem ser usadas na recuperação de solos”.

O biochar, ou biocarvão, é outro material de origem orgânica, mas que é produzido a partir de um processo controlado, a pirólise, isto é, a transformação por aquecimento de uma mistura, ou de um composto orgânico, em outras substâncias. Esse processo é realizado em condições anóxicas, ou seja, sem a presença de oxigênio. Assim como os produtos obtidos de maneira natural, o biocarvão apresenta uma série de benesses ao solo.

Em regiões de clima tropical, como o Brasil, o solo costuma ser ácido. É possível utilizar o carvão produzido por pirólise para ajudar a reduzir essa acidez. Também é possível selecionar a matéria-prima, que será utilizada na produção do biochar, a fim de obter características específicas, como um produto com maior capacidade de “sequestro de carbono”, mitigando as emissões de GEE.

Para Pellegrino, a origem da matéria-prima do biocarvão é o ponto-chave: “Conseguimos fazer biochar de materiais que são um problema. Vou dar um exemplo típico: resíduo de centros urbanos, lixo”. Em países de clima temperado, o biocarvão já é bastante difundido. O professor explica que na Alemanha há uma produção pertinente de biochar a partir do lixo urbano.

Outra característica oportuna do biocarvão é contribuir na recuperação do solo. “Depois de alguns anos, cinco ou seis, o solo não consegue suportar a produção baseada na queimada, isso leva ao abandono da área e a busca por outra”, comenta o professor sobre o ciclo de desmatamento, e acrescenta: “Caso o biochar fosse aplicado nesses solos já desmatados, ele poderia evitar que novas áreas fossem abertas, desmatadas, pois ele tende a ajudar na melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo”.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.