Escolha precoce de carreira acarreta desistências no ensino superior

Especialistas comentam estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira, que mostra que mais da metade dos alunos que ingressam no ensino superior não concluem seus cursos

 27/02/2023 - Publicado há 1 ano
Expectativa para escolha de carreira gera ansiedade em jovens – Foto: Reinaldo Mizutani/USP Imagens

 

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Escolher uma carreira para seguir aos 18 anos, em média, é um fator relevante no número de estudantes que desistem do curso ao longo da graduação. É preciso fazer certa reflexão, junto de outras medidas, para atenuar a antecipada tomada de decisão na vida dos jovens. Testes vocacionais, entre outras estratégias com a finalidade de direcionar as escolhas, são essenciais para contribuir com a decisão precoce. A opinião é consenso entre especialistas em educação.

Mozart Neves Ramos – Foto: IEA/RP

O professor titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP, polo Ribeirão Preto, Mozart Neves Ramos diz que um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, apontou que 59% dos alunos desistem de seus cursos ao entrarem na faculdade. “Os dados abrangem universidades públicas e privadas, sem diferenças significativas.”

Para Ramos, o principal elemento para atenuar essa situação seria as universidades trabalharem com formas mais flexíveis de acesso e de permanência, sem que os jovens se sintam obrigados a definirem o curso ainda muito cedo. “Essa é uma fase da vida em que ocorrem muitas transformações sociais e emocionais”, declara. 

Da computação para a economia

Exemplo disso é o economista João Édison Delarissa Filho. Ele ingressou na faculdade pela primeira vez com o objetivo de cursar Ciência da Computação. Ele conta que seu processo de escolha foi influenciado pelo contexto de encerramento da escola e a necessidade de escolher os próximos passos. E não foi só isso. A proximidade com a área, devido ao fato de alguns familiares estarem atuando no segmento da Tecnologia da Informação, também pesou na escolha. 

A escolha da profissão é um processo que exige uma reflexão e naturalmente mudanças podem vir a ocorrer – Foto: Pexels/Yan Krukau

 

Mas, no decorrer do curso, percebeu que não era nada daquilo que ele queria. “Já no primeiro ano eu notei um descasamento das minhas expectativas do que seria o curso e os conteúdos que eram ministrados nas disciplinas. Foi a partir de uma reflexão sobre as disciplinas que eu mais tinha afinidade no colegial e as que mais me interessavam que passei a guiar meu segundo processo de escolha.”

De acordo com o economista, a busca por conteúdos da grade curricular fez total diferença na decisão de sua segunda graduação, mas o processo de escolha foi além. “Por gostar das matérias de história, geografia, sociologia e atualidades, passei a procurar cursos de graduação que dessem continuidade nesses estudos. Ainda tive um terceiro momento de escolha, que foi entre o curso de Ciências Sociais e o curso de Economia, mas acabei optando pela Economia. Fiquei positivamente surpreendido durante o curso de Ciências Econômicas”, pontua. 

Ajuda profissional

O exemplo de Delarissa Filho, vivido por tantos outros jovens, revela que, durante a escolha da carreira, existem estratégias que podem contribuir para direcionar essa decisão, tais como o teste vocacional, que é bastante utilizado quando os jovens buscam ajuda. Lucy Leal Melo Silva, professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que, além dos testes vocacionais, também existem outros conceitos utilizados como orientação profissional e aconselhamento de carreira.

Lucy Leal Melo Silva – Foto: Arquivo Pessoal

“Englobando todas essas possibilidades terminológicas, as intervenções de carreiras, por exemplo, são estratégias para ajudar um cliente ou um aluno a tomar e implementar decisões eficazes de carreira. Essas estratégias visam a auxiliar a pessoa a tomar decisões sobre os estudos ou trabalho e é mais realizada no Brasil com vestibulandos para a escolha da graduação”, descreve Lucy. 

Ainda segundo Ramos, os testes vocacionais deveriam ser mais empregados nesse processo e oferecidos pelas próprias universidades, principalmente para os estudantes de famílias de baixa renda. “Isso permitiria, inclusive, que a instituição conhecesse melhor seus alunos”, finaliza.

Por Eduardo Nazaré e Susanna Nazar


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