“As conversas sobre justiça restaurativa constroem e sustentam a escuta e a escuta ativa mútua, a confiança, a responsabilidade, a compreensão, a reconciliação, as reparações e a unidade de valor e identidade, e a aceitação como seres humanos e como membros de populações perpetradoras e vitimizadas que compartilham suas histórias sobre uma coisa horrível que aconteceu, como a escravidão e o pós-escravidão”, afirma o professor John H. Stanfield, do Instituto de Estudos Avançados de Ideias Políticas do Renascimento Africano da Universidade das Maurícias, na África do Sul, e da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.
Para tratar sobre o tema, Stanfield estará no campus da USP em Ribeirão Preto, no dia 17 de novembro, às 14h, para conferência a internacional Os imperativos da inclusão autêntica e não superficial nas universidades no Brasil e em outras sociedades africanas herdadas da escravidão, no auditório do Centro de Tecnologia da Informação de Ribeirão Preto (CeTI-RP) e com transmissão on-line. As inscrições para a conferência presencial podem ser feitas aqui e para a transmissão on-line, neste link. A transmissão para os não inscritos será feita neste link.
A temática será discutida a partir de metodologias qualitativas complexas e paradoxais, nas quais Stanfield é pioneiro ao tentar “descolonizar a pesquisa de campo” e a entender a ambiguidade da “construção mitológica de ‘raça’.”
“Estamos em 2022, não em 1952. O aluno de pele escura pode ser o melhor aluno da classe com um professor de pele escura que tem autoridade para avaliar seu trabalho. A mulher de pele escura no painel de entrevistas pode ser a CEO. O cara indiano ou negro pode ser o primeiro-ministro ou presidente. Portanto, observe o que você diz para a pessoa que você acha que é o motorista, cozinheiro ou empregada”, afirma o professor.
Justiça restaurativa e universidades multiculturais no Brasil
Especialista em transformação social fazendo uso da justiça restaurativa (método em que a vítima e o agressor, quando possível e pertinente, participam ativamente na resolução das questões oriundas de um crime, com o objetivo de fazer com que a vítima possa superar o trauma que sofreu), Stanfield diz que, em sociedades multirraciais, como no Brasil, “não há simplicidade nos diálogos”. A justiça restaurativa, segundo o professor, vai além de apenas falar. Os membros de comunidades e instituições historicamente vitimadas devem trabalhar juntos em projetos de unidade para construir uma sociedade na qual todos são aceitos como seres humanos.
Nesse sentido, para Stanfield, as universidades brasileiras devem ser os “principais líderes sociais em justiça restaurativa multicultural”, para incentivar e exigir a valorização, o respeito, a compreensão e a convivência inclusiva entre pessoas culturalmente diferentes. “Uma sociedade multirracial restaurada é aquela em que as pessoas são autenticamente julgadas por seu caráter e dons, não pela cor de sua pele ou ascendência e todas têm o mesmo acesso a uma qualidade de vida digna, com educação, emprego, alimentação, saúde, direito, mídia, incluindo tecnologia digital e informática, propriedade e cargos políticos eleitos e nomeados.”, completa o professor.
A organização do evento é do Laboratório de Etnopsicologia, do Laboratório de Pesquisas em Práticas Dialógicas e Colaborativas (Dialog) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, todos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
Mais informações: etnopsi.usp@gmail.com