Em sua última coluna do ano, o professor Guilherme Wisnik comenta a respeito de mais uma exposição, desta vez em cartaz no MuBe (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia): Mupotyra: Arqueologia Amazônica, da qual é um dos curadores. A mostra aborda temas ligados à ecologia e à Amazônia e inclui dois professores do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Carla Gibertoni e Eduardo Góes, este último responsável pelas pesquisas que deram ensejo à exposição, “que mostram basicamente duas coisas: cidades amazônicas que ninguém conhecia, quer dizer, os registros que hoje é possível encontrar, porque as construções eram feitas de barro e de palha e de madeira, materiais perecíveis que não deixaram registros evidentes. Então existia, sim, uma rede de cidades e de estradas conectando essas cidades, poderia se dizer grandes aglomerações de populações, e a segunda coisa é a percepção de que boa parte da floresta, tal como a gente conhece hoje, não é um fato da natureza pura e simplesmente, mas muitas das espécies ali foram plantadas e manejadas por seres humanos e seres viventes ao longo dos tempos, então isso traz uma concepção de interação muito mais forte”, observa Wisnik.
A partir daí é possível constatar que o ser humano não é um intruso, como até autores como Euclides da Cunha chegaram a pensar; ao contrário, o humano “é um partícipe e fundamental na dinâmica que constrói esse bioma […] ao invés de haver uma dicotomia entre natureza e cultura, a gente passa a entender uma cultura – no caso, a dos povos ameríndios – que viveu sempre em harmonia com a natureza e, portanto, se mesclando a ela, uma concepção de agrobiodiversidade que não se baseia na exploração”. Para traduzir isso em termos visuais, a mostra combina materiais arqueológicos e vídeos com arte contemporânea indígena, incluindo uma roça feita pelos povos guaranis, aqui de São Paulo, e também com um grande redário na área externa do MuBe.
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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