Uso do herbicida paraquat está associado a doenças graves

Maria Elisa Pimentel Piemonte critica o fato de que o agrotóxico ainda pode ser comercializado e usado no Brasil até o fim do estoque

 21/10/2020 - Publicado há 4 anos
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O paraquat, herbicida amplamente conhecido por aumentar o risco da doença de Parkinson, entre outros problemas graves à saúde humana, teve seu uso e comercialização proibidos no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde o dia 22 de setembro. Em uma decisão recente, foi liberado o uso do herbicida até o fim dos estoques. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FM) da USP, comenta que esses estoques não deveriam existir, já que os agricultores tiveram três anos para se adaptarem, devido à decisão de proibição em 2017, com prazo final para este ano.

O uso do paraquat já é proibido em mais de 30 países, inclusive na Suíça, país de origem da maior produtora desse herbicida no Brasil, e há várias pesquisas que mostram a relação direta entre o uso do agrotóxico e consequências na saúde, tais como a doença de Parkinson, fibrose pulmonar, danos genéticos e até casos de câncer. A professora destaca que uma compilação de mais de 104 estudos sobre o assunto mostrou que a exposição do paraquat está relacionada a um aumento de cerca de duas vezes o risco da doença de Parkinson. “O aumento do surgimento da doença de Parkinson não está associado à exposição a altas doses, como outros problemas de saúde, mas está associado à exposição crônica em baixas doses, a forma mais traiçoeira da exposição ao produto.” Você pode conferir mais sobre o assunto nos artigos publicados no International Journal of Environmental Research and Public Health e no American Journal of Epidemiology.

Embora a Anvisa tenha exigido em 2017 que o trabalhador rural seja notificado sobre o risco de exposição ao paraquat e também seja obrigatório o uso de equipamentos de proteção individual, a conclusão de diversos estudos mostra que não é só o trabalhador que está diretamente exposto o grande prejudicado, mas também pessoas que não têm contato direto sofrem as consequências. Na análise de Maria Elisa, enquanto países desenvolvidos têm tornado suas políticas mais rígidas com relação ao uso de agrotóxicos, há uma forte pressão para o aumento de produção agrícola em países em desenvolvimento, como o Brasil e países da África. “Então, você vê nitidamente uma divisão: o mundo desenvolvido se protegendo e o mundo em desenvolvimento sofrendo essa pressão por ampliar a produção agrícola, se expondo cada vez mais.”

 Saiba mais ouvindo a entrevista completa no player acima.


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