Eleito presidente da República com mais de 55 milhões de votos no último dia 28 de outubro, o deputado federal Jair Bolsonaro, do minúsculo PSL, toma posse em primeiro de janeiro. Mas mesmo antes da posse, as propostas e ideias do presidente eleito já causam um certo rebuliço. No exterior, analistas políticos ainda estão abismados – e alguns assustados – com a eleição de Bolsonaro.
Entre as propostas do presidente eleito estão, por exemplo, a intenção de fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente – que foi, voltou e agora parece estar em limbo temporário –, a retirada da Educação Superior do Ministério da Educação, passando para o de Ciência e Tecnologia do astronauta Marcos Pontes, e a transferência da Embaixada Brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Isso sem se falar na recente informação, dada pelo próprio Bolsonaro, de que o Ministério do Trabalho seria extinto.
Afora isso, muitos seguidores do capitão reformado veem em sua eleição uma espécie de chancela para levarem adiante atos homofóbicos e racistas, para dizermos o mínimo, já que Bolsonaro seria um defensor dessas ideias. De qualquer forma, o Brasil mostrou uma outra face nas últimas eleições, a primeira em 24 anos que não teve a disputa restrita entre PT e PSDB. Mas que face é essa? O que significa ou poderá significar a eleição de Bolsonaro? A divisão que já havia no Brasil se aprofundou ainda mais?
Para falar sobre o “O Brasil após as eleições”, o Diálogos na USP recebeu os professores José Augusto Guilhon de Albuquerque, cientista político e professor titular aposentado, e Brasílio João Sallum Júnior, professor titular de Sociologia, ambos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP..
Para Guilhon, há um erro de diagnóstico quando se supõe que a eleição de Bolsonaro foi uma radicalização da sociedade, porque os atos de repúdio desta vem desde as manifestações de 2013. E permaneceram ao longo dos últimos anos, quando um número próximo a 80% se posicionou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, depois contra o presidente Michel Temer, contra a reforma da Previdência e contra a reforma trabalhista. Para o cientista político, isso vai continuar enquanto não houver uma resposta que vá além da retórica. Mas Guilhon vê como positivas as atitudes do presidente eleito, que tem mudado rapidamente de incendiário para bombeiro.
Sallum concorda, dizendo que, aos poucos, Bolsonaro está se enquadrando dentro das instituições e da ordem. O sociólogo considera importantes a participação do presidente eleito no evento de comemoração dos 30 anos da Constituição de 1988 e o convite ao juiz Sérgio Moro para assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública. “São vários sinais de que a posição de direita que ele quer representar não vai significar ruptura institucional”, acrescenta o professor.
Esta edição do Diálogos na USP teve apresentação dos jornalistas Marcello Rollemberg e Luiz Roberto Serrano, com trabalhos técnicos de Marcio Ortiz. A produção é do Departamento de Jornalismo da Rádio USP.