Prevenção ainda é a melhor maneira de controle do cancro cítrico

Prejuízos na produção de cítricos ainda são altos no Brasil, especialmente nos pomares de São Paulo, maior produtor de frutos cítricos do País

 17/08/2022 - Publicado há 2 anos
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Na maioria das vezes, a identificação da doença é simples e visual para quem possui experiência com o cultivo de frutos- Foto: FAPESP
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O Brasil é o maior produtor mundial de frutas cítricas, e o Estado de São Paulo é o maior produtor de frutos cítricos do País, responsável por 78% da produção de laranja, 74% da produção de limão e 34% da produção de tangerina. Mas o País poderia ter ainda mais riqueza no setor, não fosse o cancro cítrico.

A taxa de queda de frutos de laranja, por exemplo,  no Parque Citrícola de São Paulo, na safra de 2021/2022, foi de 21,8%. Só com o cancro cítrico o prejuízo foi de R$19 milhões, equivalentes em caixas que deixaram de ser colhidas pela doença 

Franklin Behlau – Foto: Fundecitrus

O cancro cítrico é uma doença causada pela bactéria Xanthomona citri subsp. citri e ataca especificamente pomares de frutos cítricos como laranjas, limões, limas ácidas, tangerinas e pomelos. Com origem na Ásia,  a primeira detecção da bactéria no Brasil foi na região de Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, em 1957.

De lá para cá, a principal forma de combate à doença ainda é a prevenção, como relata Franklin Behlau, pesquisador do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Em propriedades isentas da doença, o produtor deve ficar atento ao trânsito de máquinas e a utilização de equipamentos, porque esses utensílios podem carregar a bactéria. Há mais de 20 anos, no Estado de São Paulo, é obrigatório o plantio de mudas produzidas em ambiente fechado e controlado, isso contribui para a sanidade do pomar de uma forma geral. Quando possível, o produtor pode utilizar uma seleção de variedades de árvores menos suscetíveis à doença como uma medida para facilitar o manejo do cancro cítrico.

Ainda segundo Behlau, as principais medidas utilizadas e recomendadas são aplicações regulares de produtos à base de cobre, principalmente na primavera e verão, por conta das temperaturas mais altas e incidência de chuvas, que são condições que favorecem o desenvolvimento da doença. Outra medida importante, diz o pesquisador, é o controle do minador do citros, uma mariposa que ataca as folhas novas das plantas, “diminuindo a taxa de fotossíntese e o desenvolvimento de brotações, fazendo as folhas afetadas secarem e caírem”. A forma jovem do inseto pode provocar ferimentos nos frutos e favorecer a penetração da bactéria, aumentando a incidência da doença no pomar”, afirma.

Maicon Segalla Petrônio – Foto: Arquivo Pessoal

Novas tecnologias em testes

Devido ao alto prejuízo no setor, novas tecnologias estão sendo estudadas para prevenção e combate à doença. “Entre as novas formas de enfrentar o cancro cítrico, nanopartículas de cobre, nanopartículas de zinco, nanopartículas de prata e também a utilização de produtos naturais, como, por exemplo, óleo de cravo. Além dos óleos essenciais, o ácido gálico e ácido protocatecuico e seus derivados estão sendo observados por possuírem potente ação bactericida e potente ação antioxidante”, comenta o pesquisador Maicon Segalla Petrônio, da NPsmart, startup de nanotecnologia na área de agricultura. Todos os testes são realizados do cultivo ao pós-colheita, para mais opções de controle e redução do cancro cítrico.

Identificação da doença

José Belasque Júnior – Foto: Fundecitrus/Reprodução

Na maioria das vezes, a identificação da doença é simples e visual para quem possui experiência com o cultivo de frutos. “Manchas de coloração parda ou marrom, que iniciam na parte baixa da folha, progridem com o aumento do diâmetro da lesão e se tornam mais ásperas. A presença de anéis concêntricos nas lesões se tornam também salientes com o passar do tempo. As lesões podem aparecer em frutos, ramos e folhas”, informa Behlau. 

Quando há necessidade de confirmação da doença nas árvores de citros, existe mais de um método laboratorial para o diagnóstico. “Há desde métodos de amplificação de ácidos nucleicos, que é o PCR, específico para detecção da bactéria, e outros métodos mais simples como isolamento em meio de cultura, microscopia de luz ou microscopia eletrônica”, informa o professor José Belasque Júnior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da USP, em Piracicaba.

Preocupações com saúde humana

O professor Belasque Junior explica que não há risco algum para a saúde das pessoas, porque os sintomas ficam restritos à casca e ao início do albedo, que é aquela parte branca embaixo da casca dos frutos. O dano está relacionado ao sistema produtivo, quer dizer, se o produtor não manejar bem essa doença, ele tem queda de frutos e perda de qualidade para venda no mercado in natura, já que o aspecto do fruto não fica tão bom.

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“Por uma medida de controle da doença, frutos com sintomas não podem ser comercializados nos mercados de frutas in natura, isso é para contenção da doença, para que não ocorra a entrada desse patógeno em áreas que ainda são livres. No entanto, essa é uma medida para contenção da doença, para que novas áreas não sejam afetadas e não como uma medida para que as pessoas não venham a sofrer algum mal, porque isso não ocorre”, comenta Belasque.


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