O Brasil é o maior produtor mundial de frutas cítricas, e o Estado de São Paulo é o maior produtor de frutos cítricos do País, responsável por 78% da produção de laranja, 74% da produção de limão e 34% da produção de tangerina. Mas o País poderia ter ainda mais riqueza no setor, não fosse o cancro cítrico.
A taxa de queda de frutos de laranja, por exemplo, no Parque Citrícola de São Paulo, na safra de 2021/2022, foi de 21,8%. Só com o cancro cítrico o prejuízo foi de R$19 milhões, equivalentes em caixas que deixaram de ser colhidas pela doença
O cancro cítrico é uma doença causada pela bactéria Xanthomona citri subsp. citri e ataca especificamente pomares de frutos cítricos como laranjas, limões, limas ácidas, tangerinas e pomelos. Com origem na Ásia, a primeira detecção da bactéria no Brasil foi na região de Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, em 1957.
De lá para cá, a principal forma de combate à doença ainda é a prevenção, como relata Franklin Behlau, pesquisador do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Em propriedades isentas da doença, o produtor deve ficar atento ao trânsito de máquinas e a utilização de equipamentos, porque esses utensílios podem carregar a bactéria. Há mais de 20 anos, no Estado de São Paulo, é obrigatório o plantio de mudas produzidas em ambiente fechado e controlado, isso contribui para a sanidade do pomar de uma forma geral. Quando possível, o produtor pode utilizar uma seleção de variedades de árvores menos suscetíveis à doença como uma medida para facilitar o manejo do cancro cítrico.
Ainda segundo Behlau, as principais medidas utilizadas e recomendadas são aplicações regulares de produtos à base de cobre, principalmente na primavera e verão, por conta das temperaturas mais altas e incidência de chuvas, que são condições que favorecem o desenvolvimento da doença. Outra medida importante, diz o pesquisador, é o controle do minador do citros, uma mariposa que ataca as folhas novas das plantas, “diminuindo a taxa de fotossíntese e o desenvolvimento de brotações, fazendo as folhas afetadas secarem e caírem”. A forma jovem do inseto pode provocar ferimentos nos frutos e favorecer a penetração da bactéria, aumentando a incidência da doença no pomar”, afirma.
Novas tecnologias em testes
Devido ao alto prejuízo no setor, novas tecnologias estão sendo estudadas para prevenção e combate à doença. “Entre as novas formas de enfrentar o cancro cítrico, nanopartículas de cobre, nanopartículas de zinco, nanopartículas de prata e também a utilização de produtos naturais, como, por exemplo, óleo de cravo. Além dos óleos essenciais, o ácido gálico e ácido protocatecuico e seus derivados estão sendo observados por possuírem potente ação bactericida e potente ação antioxidante”, comenta o pesquisador Maicon Segalla Petrônio, da NPsmart, startup de nanotecnologia na área de agricultura. Todos os testes são realizados do cultivo ao pós-colheita, para mais opções de controle e redução do cancro cítrico.
Identificação da doença
Na maioria das vezes, a identificação da doença é simples e visual para quem possui experiência com o cultivo de frutos. “Manchas de coloração parda ou marrom, que iniciam na parte baixa da folha, progridem com o aumento do diâmetro da lesão e se tornam mais ásperas. A presença de anéis concêntricos nas lesões se tornam também salientes com o passar do tempo. As lesões podem aparecer em frutos, ramos e folhas”, informa Behlau.
Quando há necessidade de confirmação da doença nas árvores de citros, existe mais de um método laboratorial para o diagnóstico. “Há desde métodos de amplificação de ácidos nucleicos, que é o PCR, específico para detecção da bactéria, e outros métodos mais simples como isolamento em meio de cultura, microscopia de luz ou microscopia eletrônica”, informa o professor José Belasque Júnior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da USP, em Piracicaba.
Preocupações com saúde humana
O professor Belasque Junior explica que não há risco algum para a saúde das pessoas, porque os sintomas ficam restritos à casca e ao início do albedo, que é aquela parte branca embaixo da casca dos frutos. O dano está relacionado ao sistema produtivo, quer dizer, se o produtor não manejar bem essa doença, ele tem queda de frutos e perda de qualidade para venda no mercado in natura, já que o aspecto do fruto não fica tão bom.
“Por uma medida de controle da doença, frutos com sintomas não podem ser comercializados nos mercados de frutas in natura, isso é para contenção da doença, para que não ocorra a entrada desse patógeno em áreas que ainda são livres. No entanto, essa é uma medida para contenção da doença, para que novas áreas não sejam afetadas e não como uma medida para que as pessoas não venham a sofrer algum mal, porque isso não ocorre”, comenta Belasque.
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