O oceano tem cor, e não só azul

Marés vermelhas acontecem pelo acúmulo de microorganismos e sedimentos na superfície e podem ser perigosas, adverte Aurea Ciotti

 17/08/2023 - Publicado há 9 meses
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Imagem de satélite mostrando a floração de microalgas no início de setembro no litoral norte paulista – Foto: NASA/GSFC/OBPG

 

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Quando se pensa na imensidão azul do oceano, não se imagina que a cor vermelha possa estar presente. Marés vermelhas: é esse o nome dado para a proliferação descontrolada, sobretudo, de microalgas na superfície das águas. “Nas plantas, a fotossíntese permite o crescimento de folhas, caules e raízes. Mas, nas microalgas, isso não acontece. Elas não aumentam em tamanho, e sim se dividem e aumentam em número de células”, diz Áurea Ciotti, professora do Centro de Biologia Marinha da USP.

O acúmulo, também chamado de floração, é realizado principalmente pelo tipo de alga denominada de dinoflagelada, que, por conta dos seus pigmentos, torna a água vermelha. Porém, dependendo da espécie, podem até existir marés verdes, marrons, entre outras.

À primeira vista, as marés vermelhas podem parecer inofensivas, apenas colorindo o oceano, porém, podem ter consequências que ameaçam a vida marinha. “Algumas espécies produzem toxinas que trazem riscos à biodiversidade, à pesca e ao cultivo de organismos marinhos, além da saúde humana. Essa enorme massa de células, ao se decompor, também pode causar a falta de oxigênio para os outros organismos, causando as zonas mortas”, explica Áurea.

Aurea Ciotti

Razões

A eutrofização corresponde ao aumento da quantidade de matéria orgânica no ambiente aquático. Esse fenômeno está intimamente relacionado ao aparecimento das marés vermelhas, já que a proliferação maior das águas vem da disponibilidade de mais nutrientes. “Isso é observado em muitas regiões costeiras pelo mundo, onde a proliferação das microalgas tem relação com o aumento de nutrientes no oceano, originados do esgoto urbano ou de fertilizantes da agricultura”, comenta a professora.

Mas a abundância de nutrientes não é o único fator que produz essas marés de algas. O aumento da temperatura do oceano, que está fortemente relacionado ao aquecimento global, também entra na equação. De acordo com a Copernicus, uma agência de mudanças climáticas ligada à União Europeia, a temperatura do oceano bateu o recorde de 20,96ºC em 2023. 

O problema afeta muitos níveis da cadeia marinha, como pontua Áurea: “Mesmo sem produzir toxinas, as alterações na quantidade e composição das microalgas afetarão toda a teia alimentar, pois mais alimento na base da cadeia levará a uma alteração no número de indivíduos de outros organismos e a um desequilíbrio ecológico”. Porém, o problema possui solução: é preciso melhorar o saneamento e as práticas agrícolas, para que a entrada de nutrientes no oceano seja controlada, e também combater as mudanças climáticas.

*Estagiária sob supervisão de Paulo Capuzzo


Boletim Desvendando o Oceano

Parceria: Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano - Instituto de Estudos Avançados, Instituto Oceanográfico, Rádio USP e Jornal da USP
Produção: Alexander Turra, Katharina Grisotti e Julia Lima Monteiro Carvalho
Coprodução: Cinderela Caldeira, Alessandra Ueno, Julia Galvão e Guilherme Castro Sousa Edição: Rádio USP E-mail: ouvinte@usp.br
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