Sem chuvas desde o dia 10 de junho, a cidade de São Paulo caminha para o mês de julho mais seco de sua história, de acordo com dados do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo. A frequência irregular das precipitações neste ano reflete uma mudança climática que tem afetado os paulistanos com maior intensidade na última década.
As medições do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) mostram que a capital paulista nunca ficou sem chuvas no mês desde 1933, quando os índices começaram a ser analisados. Julho de 2022 concentra o menor valor pluviométrico do mês em 14 anos e o quarto maior período de estiagem do século.
O longo período de seca somado com elevadas temperaturas reduzem a qualidade de vida da população com a poluição. O acúmulo de material particulado atmosférico, nome dado à fuligem e poeira no ar, “aumenta o número de internações e reduz expectativa de vida principalmente desses grupos mais vulneráveis (crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios)”, explica o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e Titular do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Abastecimento de água
A falta de chuvas também pode significar torneiras secas. Côrtes admite: “Eu não vejo nos prognósticos chuvas suficientes para manter os reservatórios em níveis adequados, especialmente o Sistema Cantareira”. O manancial é o principal reservatório da região metropolitana de São Paulo e abastece mais de 7 milhões de pessoas diariamente.
O Cantareira opera com 36,4% de seu volume, segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A seca é ainda mais potencializada por uma fase neutra, sem os fenômenos da La Niña ou El Niño, segundo o professor: “Não tem chuvas abundantes no radar. Obviamente que nós vamos ter uma retomada de chuvas com a chegada da primavera, mas nada que seja de forma substancial para que esse cenário seja revertido”.
Durante a última crise hídrica, ocorrida entre 2014 e 2016, a Sabesp precisou usar o volume morto do Sistema Cantareira, requisitado apenas em situações emergenciais. A atual estiagem emite estado de alerta quanto ao risco da repetição desse acontecimento. Em nota, a companhia afirmou que “não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo” e reforçou a recomendação do uso consciente da água.
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