Estádios e turismo, uma nova fronteira do esporte

Um campo em expansão, o turismo em estádios gera renda e lazer, além de promover o sentimento de pertencimento e orgulho da população

 20/10/2023 - Publicado há 6 meses
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Estátua de Eusébio, à porta do Estádio da Luz – Foto: P. Fernandes (Trebaruna) via Wikimedia Commons/CC BY 3.0
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O esporte não tem fronteiras. Seja nas olimpíadas ou numa partida de futebol de bairro, ele possui a capacidade de unir as mais diversas pessoas num mesmo propósito. Não é à toa que ele mova milhões de pessoas todos os anos a visitar novos lugares. Por exemplo, em 2014, ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo, o País registrou a entrada de 6.429.852 turistas internacionais, de acordo com o Anuário Estatístico de Turismo 2015 do Ministério do Turismo. Nesse cenário, os estádios foram e continuam sendo grandes atores no turismo nacional e internacional. 

De acordo com Milena Manhães Rodrigues, doutoranda em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, o desafio a ser enfrentado quando se fala de turismo em estádios é “gerar receitas suficientes para cobrir os custos de construção e manutenção dos estádios, buscando alternativas de renda nesses espaços, não apenas com a venda de ingressos, publicidade ou locação para shows e convenções, mas com outras práticas de lazer e de turismo”. Desse modo, existe um estímulo para que esses espaços sejam rentáveis e o turismo é uma opção promissora. 

Modalidades do turismo

A doutoranda explica que a relação turismo e esportes se dá de três diferentes formas. Existe o turismo de prática esportiva, em que o turista viaja para realizar seu esporte. Outra forma é o turismo de eventos esportivos, em que o indivíduo viaja para assistir à Copa do Mundo ou aos Jogos Olímpicos, por exemplo. Já a última forma é o turismo de nostalgia, que envolve a visita a estádios, arenas ou museus esportivos motivados pela procura de um conhecimento, uma cultura ou significado.

Na Europa, diversos estádios renomados já oferecem experiências turísticas bem elaboradas. Como uma estratégia de manutenção e visibilização desses espaços, estimulam-se atividades histórico-culturais e exposições permanentes para divulgação de seus acervos. Elas complementam o uso dos estádios fora da temporada de competições esportivas, fomentando tanto o turismo local como o nacional e o internacional. Milena Rodrigues destaca o Camp Nou, em Barcelona, que foi o primeiro estádio a realizar um tour temático em seu estádio no ano de 1984.

Além de visitas guiadas ao gramado e pelos diversos setores que compõem o estádio, em alguns lugares os visitantes também podem encontrar museus. Esse é o caso do Estádio da Luz, em Lisboa, que oferece entrada ao Museu Cosme Damião. Milena também apontou outras atividades que podem compor essa experiência: “Animadores poliglotas, exposição de pinturas, textos, outras expressões artísticas e símbolos de momentos importantes da história do clube, entre outras possibilidades”. 

Brasil e vizinhos

Estádio Jornalista Mário Filho, mais conhecido como Maracanã, em fevereiro de 2014 – Foto: Daniel Basil / Portal da Copa via Wikimedia Commons / CC BY 3.0 br

 

Na América Latina, encontramos algumas experiências similares. O museu do estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires (Argentina), ou ainda os estádios do Centenário em Montevidéu (Uruguai), o estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã), no Rio de Janeiro (Brasil), são exemplos bem-sucedidos da integração desses locais com o turismo. 

No Brasil, vários estádios tiveram que se adaptar para sediar megaeventos esportivos como a Copa do Mundo Fifa de 2014 e a Olimpíada 2016. Isso fez com que passassem a permitir a visitação de espaços como sala de troféus, criando tours internos oferecidos, por exemplo, nos estádios dos quatro maiores clubes de São Paulo. Também na capital paulista está uma das primeiras iniciativas do patrimônio esportivo cultural do País: o Museu do Futebol – que contempla ainda o Centro de Referência do Futebol Brasileiro, área dedicada à pesquisa, fomento e gestão de coleções, memórias e acervos ligados ao futebol.

Esporte e nostalgia

Um campo em expansão no contexto brasileiro é o turismo de nostalgia. Milena comenta sobre a dissertação Atratividade Turística em Estádios de Futebol: Visitação no Estádio Arena Corinthians, do doutor em Turismo Fillipe Romano, que discute justamente a visitação e usos do estádio de futebol, além do esporte e da relação com o clube. “Pelo turismo de nostalgia, os times apresentam as conquistas históricas de seu futebol, da região, do país, e diferentes aspectos da cultura local relacionados aos esportes, podendo refletir a identidade de uma nação, por exemplo, ao reproduzir as cores da bandeira no uniforme. Deste modo, possibilita geração de renda, o lazer criativo e a vivência do turista com a cultura local, ao mesmo tempo em que promove o sentimento de pertencimento e orgulho da população”, comenta a doutoranda. 

* Sob orientação de Paulo Capuzzo


Boletim Ciência do Turismo

Programa de Pós-Graduação em Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades-USP, Rádio USP e Jornal da USP
Produção - Alexandre Panosso Netto, Lúcia Silveira Santos, Vitor Silva Freire e Milena Manhães Rodrigues
Coprodução - Cinderela Caldeira, Julia Galvão, Alessandra Ueno, Guilherme Castro Sousa
O Boletim Ciência do Turismo vai ao ar na Rádio USP, quinzenalmente, às sextas-feiras, no Jornal da USP no ar
Edição: Rádio USP
Você pode sintonizar a Rádio USP SP 93,7 MHz e Ribeirão Preto 107,9 MHz, pela internet em www.jornal.usp.br ou nos principais agregadores de podcast
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