Apesar da insegurança com o crime, armamento da população não agrada aos brasileiros

É o que mostra pesquisa realizada pelo Fórum Brazil UK 2022, que revela ainda que 68% das pessoas afirmam ter medo de sofrer violência da polícia

 30/08/2022 - Publicado há 2 anos

 

O crime infiltrado nas instituições do Estado também é alvo de preocupação para as pessoas – Foto: Elielson Modesto/Ascom Segup via Fotos Públicas
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Diante da presença de grupos armados, 91% dos brasileiros convivem com alguma presença de facções criminosas em seus bairros, exibe pesquisa Fórum Brazil UK 2022 realizada pela plataforma homônima. A violência e a ilegalidade reverberam na percepção da segurança pública no cotidiano, sobretudo nas questões do armamento, do encarceramento e da ação das forças policiais. A pesquisa contou com uma amostra de perfil variável, segundo a distribuição representativa da população brasileira.

O controle territorial por grupos de poder paralelo evidencia a dificuldade de acesso e pouca autoridade da ordem pública nos bairros, principalmente nas periferias. “A partir do momento que você tem grupos armados atuando nesses territórios, você tem locais onde a lei não é garantida pela Constituição e pelo Estado, mas por tiranos”, comenta Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP. Ele sinaliza um contraste na atuação dos grupos no Rio de Janeiro, onde são “opressivos”, enquanto, em São Paulo, a tirania caracteriza-se por ser mais efetiva e cotidiana.

Armamento da população

A pesquisa também revela que 58% das pessoas discordam que a segurança seria maior com o uso de armas. Apesar da insegurança com o crime nas áreas urbanas, o armamento da população não agrada aos brasileiros. “Eu acho que as pessoas querem previsibilidade, elas querem ordem, querem capacidade de pensar no futuro, elas querem instituições que funcionem”, opina Manso. 

Bruno Paes Manso – Foto – nev.prp.usp.br

Essa previsibilidade tange à realidade do Brasil de maneira simples: “É um desejo de que mesmo que você ganhe pouco, e que sofra, e que trabalhe horas seguidas, você não seja assaltado no ponto de ônibus às 5h da manhã”, conta ele. A garantia da segurança pública por meio de políticas institucionais tem sido debatida com afinco por representantes populistas, porém, nem sempre os funcionários do governo asseguram a harmonia da comunidade.

Milícias

O crime infiltrado nas instituições do Estado também é alvo de preocupação para as pessoas. Na visão dele, os crimes “são organizados pela polícia, que também conseguem votos nesses territórios e elegem muita gente (para os cargos públicos)”. Uma parcela de 68% dos entrevistados da pesquisa afirmou ter medo de sofrer violência das polícias civil e militar, órgãos responsáveis pela proteção da população. Ao invés da defesa da sociedade, o jornalista alega que os policiais tornam-se “protagonistas do crime”.

No Rio de Janeiro, as milícias surgiram com a bandeira de autodefesa frente à expansão do tráfico para outros territórios. “Eles passam a controlar o território alegando que vão evitar a chegada do tráfico, mas, a partir daí, eles começam a ganhar dinheiro de outras formas”, explica Manso, que exemplifica: “Extorquindo moradores e comerciantes, organizando monopólios de outros crimes ou produtos”. Ainda assim, a execução e o aprisionamento de criminosos são vistos com bons olhos pelos entrevistados.


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