Amostras de banco de sangue podem ser utilizadas para monitorar a evolução de epidemias

O pesquisador Carlos Augusto Prete Junior comenta estudo que teve como propósito monitorar a epidemia em oito capitais brasileiras

 28/11/2022 - Publicado há 1 ano
Foram utilizadas doações de sangue para buscar a quantidade de pessoas infectadas – Foto: Visualhunt
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Pesquisa aponta que amostras de banco de sangue podem ser utilizadas para monitorar a evolução de epidemias. A investigação foi realizada com apoio da Fundação Oswaldo Cruz, da Fapesp e envolveu diversas universidades com o objetivo de rastrear doenças infecciosas e calcular a imunidade coletiva, em especial da covid-19.

O estudo teve como propósito monitorar a epidemia de oito capitais brasileiras. Para isso, foram utilizadas doações de sangue para buscar a quantidade de pessoas infectadas. Carlos Augusto Prete Junior, pesquisador do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica (Poli) e autor do estudo, comenta que a metodologia é uma forma de aprimorar a coleta de dados.

Testar pessoas aleatoriamente é um processo caro e difícil de ser organizado. Além disso, não é possível testar retroativamente as pessoas através desse método. As amostras de sangue são interessantes por otimizarem o processo e precisarem ficar armazenadas por seis meses, configurando a possibilidade de testagem retroativa. “Nós testamos anticorpos IgG – anticorpos que ficam presentes no sangue depois da infecção – e com isso conseguimos saber o número de pessoas infectadas ao longo do tempo”, explica Prete Junior.

Epidemia heterogênea

A quantidade de pessoas infectadas ao longo do tempo é chamada de taxa de ataque. A partir dessa taxa é possível saber a dinâmica da pandemia nas oito cidades analisadas. O pesquisador indica que o resultado foi surpreendente: “Nós descobrimos que a epidemia no Brasil foi muito heterogênea. Achamos taxas de ataque muito diferentes entre as cidades”. Ele menciona que, em dezembro de 2020, a taxa em Curitiba era de 20% e, em Manaus, de 75%. 

Carlos Augusto Prete Junior – Foto: Lattes

O estudo identificou uma variação grande na taxa de letalidade por infecção do vírus e uma variação de taxa de ataque por idade e sexo. “No início da epidemia, os mais jovens se infectavam mais do que os mais velhos e depois o padrão foi invertendo. Também ao longo da epidemia há uma tendência geral de que os homens se infectam mais do que as mulheres”, relata Prete Junior. Essas diferenças contribuem para a ideia de que a epidemia foi heterogênea nas cidades analisadas. Isso pode ser explicado pelas diferentes variantes e pela postura política adotada em cada região para a contenção do vírus da covid-19.

A metodologia utilizada foi pensada para que o resultado fosse o mais eficiente possível. O pesquisador comenta que o processo é mais do que ir no banco de sangue e testar, é preciso fazer com que os doadores de sangue se tornem representantes da população. “Nós testamos os anticorpos para encontrar o nível desses anticorpos, que depois são convertidos em uma medida de proteção para calcular quanto uma cidade está protegida ao longo do tempo”, explica.

Além da covid-19, é possível monitorar a epidemia de outras doenças utilizando amostras de sangue. Isso não é válido para doenças em que o doador deixa de doar sangue por conta da infecção, como HIV, mas acompanhar doenças que produzem os anticorpos IgG pode ser uma alternativa para o controle e medidas de contenção dessas doenças.


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