Cenas de agressão a jornalistas se tornam comuns hoje no Brasil e no mundo. Um exemplo aconteceu no início do mês de novembro, em Santa Catarina, quando jornalistas da NSC TV, afiliada da Rede Globo, cobriam o descumprimento da lei que proíbe aglomerações nas praias do Estado e foram agredidos e impedidos de prosseguir com a reportagem.
Daniela Osvald Ramos, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), explica que a agressão a jornalistas é uma herança da ditadura que não acabou com o fim do regime militar, especialmente em lugares mais remotos. A grande mudança se dá a partir das chamadas Jornadas de Junho, em 2013.
“A partir dos protestos nos grandes centros, aparece a violência contra jornalistas famosos, de grupos importantes, em ataques difusos de orientação política diversa: tanto de quem se colocava à esquerda, com um discurso de que a mídia é golpista, quanto com o discurso da direita de que a mídia não fala a verdade”, aponta.
Já Vitor Blotta, também professor da ECA e pesquisador do NEV, ressalta que o ataque à imprensa tem aumentado ainda mais nos últimos dois anos, como demonstra pesquisa da Artigo 19, organização não-governamental que defende e promove a liberdade de expressão. “Já foram contabilizadas mais de 450 violações à liberdade de imprensa e aos direitos de profissionais do jornalismo praticados pela família Bolsonaro ou por agentes do Estado”, analisa.
Segundo ele, a média, nos anos anteriores, era de 100 violações a esses direitos. Isso demonstra que esta administração é direta e declaradamente contrária à liberdade de imprensa e à atuação crítica do jornalismo. “Para eles, a instituição jornalística deveria ser elogiosa ao governo e à sua administração.”
Daniela afirma ainda que essa questão está ligada a um quadro mais amplo de intolerância, calcado na linguagem e no discurso das redes. “Primeiramente, essa intolerância se organiza na forma de jargões e discursos de ataques. Essa manifestação passa a ser munição na formação de um ambiente de intolerância no qual jornalismo e jornalistas são alvos, como forma de disputa de hegemonia de discurso na esfera pública.”