Acessibilidade nos cinemas: Brasil ainda precisa avançar em relação ao resto do mundo

Rosaria Ono entende que falta uma comunicação mais assertiva de conscientização social para garantir que esse benefício possa ser usufruído por seu público-alvo

 11/01/2024 - Publicado há 4 meses     Atualizado: 29/01/2024 as 7:59
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A Ancine estudou as experiências internacionais de promoção à acessibilidade visual e auditiva nos cinemas Foto: Universo Produção/Flickr/CC BY-NC-ND 2.0

 

A Agência Nacional do Cinema (Ancine) promoveu uma ação regulatória em 2020 que implementou a obrigatoriedade, sob pena de multa, aos cinemas nacionais de oferecerem aparelhos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva, através dos recursos de legendagem descritiva, libras e audiodescrição. A determinação está na Instrução Normativa 128/2016. Dados da Ancine revelaram que, em 2019, das 3.300 salas de cinema do Brasil, apenas 269 teriam alguns desses mecanismos, o que representa 8% do total. 

Rosaria Ono,  professora do Departamento de Tecnologia da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, explica o panorama internacional em relação à acessibilidade no acesso às produções audiovisuais, as problemáticas no cenário brasileiro e o que pode ser feito para melhorar.

Conjuntura internacional de acessibilidade 

Para promover a ação regulatória no Brasil, a Ancine estudou as experiências internacionais de promoção à acessibilidade visual e auditiva nos cinemas, principalmente nos Estados Unidos da América (EUA), Austrália e Reino Unido. Os norte-americanos analisaram opções de acessibilidade disponíveis, os custos-benefícios digitais e analógicos presentes nas salas de cinema e os custos das ferramentas acessíveis.

Rosaria Ono – Foto: Arquivo Pessoal

“Nos Estados Unidos, a regulamentação que exige acessibilidade nos cinemas é um tratado de 2018, é uma regulamentação nacional, emitida pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e ela exige várias questões de acessibilidade para uma larga variedade de deficiências. Em relação à acessibilidade auditiva, existem alguns itens, principalmente vinculados à tecnologia assistiva,” explica Rosaria. 

A exceção, no entanto, ocorreu na Austrália, onde a implementação dos recursos de acessibilidade foi executada sem a necessidade de aparato legal. O projeto foi realizado com a participação do comitê Grupo Conselheiro de Acessibilidade para Cinemas, formado pelos principais exibidores, distribuidores, ONGs de pessoas com deficiência e o governo. 

Aparelhos acessíveis nos cinemas do Brasil

De acordo com Rosaria, o acesso às produções audiovisuais seria facilitado se os filmes e as sessões fossem distribuídos com legenda, esses recursos iriam fornecer condições de acesso mais universais. A professora explica que existem aparelhos que são ligados diretamente ao dispositivo individual do usuário e que existem equipamentos adicionais que podem ser solicitados para uso e disponibilizados pelos cinemas. 

A pessoa precisa se informar, solicitar com antecedência, testar o equipamento para poder utilizar, então depende muito efetivamente dos cinemas estarem preparados para prover os usuários desse equipamento. Então, certamente, a falta desses equipamentos pode afetar o acesso dessas pessoas, mas eu acho que, antes de tudo, falta uma comunicação efetiva de que existem esses equipamentos e que devem ser providos pelas salas de cinema,” afirma a professora.

Análise social de inclusão 

Rosaria discorre que equipamentos auditivos e outros de tecnologia assistiva podem ser distribuídos nos cinemas, mas essa questão depende da demanda. O público que precisa desses aparelhos pode não saber que o cinema fornece essa acessibilidade e, portanto, não ir ao cinema. Com o público que detém deficiência visual e/ou auditiva deixando de acessar esses espaços, os exibidores não veem demanda para prover esses recursos. 

A especialista ressalta que o problema é anterior às necessidades de aparelhagem e que advém da falta de pessoas deficientes nos cinemas. A questão se pauta também no acesso que esse público possui para usufruir do entretenimento. A professora afirma que falta uma comunicação mais assertiva de conscientização social. 

“São elementos que vão sendo agregados à medida que nós tenhamos uma comunicação efetiva e uma conscientização de toda a sociedade. No entanto, talvez a questão seja sobre o quanto as pessoas têm acesso ao cinema, para poder usufruir das condições de acessibilidade nesse tipo de entretenimento. Existe um trabalho mais amplo a ser feito, para que se garanta que essas pessoas possam chegar ao cinema, que eu acho que é uma primeira questão,” reflete a professora.

Rádio USP

Ouça a entrevista sobre o tema levada ao ar na primeira edição do Jornal da USP no Ar desta segunda-feira (29/01) :

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*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

(Texto atualizado em 29/01, às 8h00)


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