A vacinação em larga escala tem sido um marco crucial no Brasil e no mundo, resultando no controle e até mesmo na erradicação de diversas doenças que antes representavam sérios problemas de saúde pública. Doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche, que já foram frequentes no passado, são agora apenas lembranças distantes para as novas gerações. O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde desempenha um papel fundamental nessa conquista, pois representa um esforço contínuo para proteger a saúde pública e conter a propagação de doenças.
Uma ênfase especial tem sido dada à imunização dos idosos, uma vez que, devido à idade avançada e às condições de saúde que caracterizam essa faixa etária, se torna uma população mais vulnerável, sujeita a complicações. O assunto é importante porque a população brasileira está envelhecendo rapidamente, com pessoas com mais de 60 anos representando 14,7% da população, segundo dados do IBGE. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% entre 2012 e 2021.
A vacinação nem sempre fez parte da cultura brasileira. Foi a partir do Brasil Império, com a imunização compulsória contra a varíola, que as vacinas entraram em destaque. Oswaldo Cruz, diretor-geral de Saúde Pública do Brasil em 1903, exerceu um papel essencial no combate às doenças, tendo estruturado a primeira campanha de vacinação nacional.
O infectologista Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, destaca a importância do calendário de vacinação em todas as faixas etárias. “O conceito de que a vacina é para criança é uma ideia do passado. Hoje, o Programa Nacional de Imunização tem vacinas recomendadas para todos os períodos da vida.”
Bellissimo ainda ressalta que as vacinas não só prolongam, mas melhoram a qualidade de vida das pessoas em qualquer faixa etária, pois previnem doenças graves como difteria, tétano, hepatite B, sarampo, entre outras.
Intrínseco à importância da vacinação está a importância de uma campanha de vacinação. O Brasil tem uma história de sucesso em diversas campanhas de vacinação, como a Campanha de Erradicação da Varíola, realizada entre 1966 e 1973, a Campanha Nacional de Imunização contra a Poliomielite, que resultou na interrupção da transmissão do vírus no País e em um certificado emitido pela OMS que atesta o Brasil como livre da doença. A Campanha de Vacinação contra o sarampo, a Campanha Nacional de Vacinação contra a influenza (gripe) e a Campanha de Vacinação contra a covid-19 também são destaques.
Mas Bellissimo faz uma ressalva: “Não existem muitas campanhas voltadas para o público adulto e idoso em relação à necessidade de vacinação, o que pode ser considerado uma falha. A vacinação da covid-19 teve uma campanha de conscientização robusta para a terceira idade, mas não é uma precedência comum”.
Importância do calendário de vacinação
Apesar de não existirem muitas campanhas com o enfoque na população idosa, há um calendário que informa as vacinas que devem ser tomadas. “O calendário para a população idosa compreende uma série de vacinas recomendadas, incluindo a dose anual contra a covid-19 e a gripe”, relata o professor.
Bellissimo acredita ser importante esclarecer que a vacinação contra a gripe é fundamental para o grupo da terceira idade, pois, embora possa parecer uma doença banal, na maioria das vezes, para os idosos pode desencadear complicações graves como pneumonia, diabete, insuficiência cardíaca, derrame e até mesmo infarto.
Além dessas, Bellissimo informa sobre a vacina dupla (DT), que protege contra difteria e tétano, a vacina contra hepatite B, a vacina contra a febre amarela, a SCR, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, e a pneumocócica 23-valente. “Essas quatro vacinas são recomendadas para todos os adultos e idosos, independentemente de possuírem ou não alguma doença.”
Para idosos com doenças crônicas, existem indicações de outras vacinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “É o caso da vacina contra a varicela, meningite, pneumonia, febre tifoide, raiva e a meningocócica, que não estão amplamente disponíveis no SUS, mas são gratuitas para aqueles que as necessitam”, comenta Bellissimo.
A importância da vacinação para o público idoso é refletida em dados e porcentuais emitidos durante a pandemia da covid-19. Um estudo realizado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) de São Paulo concluiu que, entre os idosos, a vacinação de reforço foi capaz de diminuir em 95% a incidência de óbito na terceira idade.
O infectologista ainda compara a eficiência da vacinação em relação à sua ampla abrangência e seu baixo custo. “Pouquíssimas intervenções têm o potencial de impacto da saúde pública que as vacinas têm, considerando o baixo custo investido. A vacinação com esquema completo, em especial quando acrescida do reforço, é fundamental e é a forma mais efetiva da população se proteger.”
Contatada pelo Jornal da USP no Ar, Edição Regional, a Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto não respondeu às solicitações feitas para esclarecimentos sobre as campanhas de vacinação destinadas à terceira idade no âmbito do município.
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